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Pr. Márcio Leão
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Imagino o quanto deve ter sido difícil para Adão após a queda, o peso da culpa martirizando sua consciência e já declarando sua sentença: Digno de morte! É fácil perceber seu desespero quando ouve a voz de Deus pelo jardim: - Adão onde estás? E pobre homem em uma atitude desesperadora pega sua mulher e tenta se esconder de Deus entre as árvores. Posso imaginar seu coração quase saindo pela boca, pernas trêmulas, como uma criança que faz arte e sabe que o pai descobriu, então ela se encolhe no canto da casa, se esconde debaixo da cama com as mãozinhas sobre a boca imaginando coisas terríveis que seu pai poderá lhe fazer.
Nesta hora, um dos momentos mais sombrios, passava no pensamento do homem: “O que vou dizer a Ele? Qual será a minha justificativa diante do meu erro?” E ao ser interpelado por Deus, mais que depressa Adão aponta seu dedo sem piedade para sua esposa e diz: “A mulher que tu me deste por companheira, ela me deu da árvore e eu comi”.
Abusando um pouco do texto de Gênesis no relato da tentativa da justificativa do homem perante Deus, o que Adão quis dizer? “Essa mulher não presta!” ou talvez: “Olha Deus o Senhor não me deu uma boa esposa!”. Certo é que em nenhum momento vamos encontrar Adão dizendo que ele ignorou a ordem de Deus e ciente do perigo comeu do fruto.
Como pastor, percebo o quanto essa Síndrome de Adão é tão presente na vida das pessoas e em seus relacionamentos, a dificuldade de reconhecer a sua parte de culpa, sua responsabilidade naquilo que talvez não esteja dando certo. Vejo que essa síndrome tem afetado, principalmente, três áreas dentro das igrejas: Na fé, na pregação e no louvor.
1.- Síndrome de Adão na fé: Hoje em dia é muito comum líderes fazerem o uso da palavra com inúmeros exemplos bíblicos para falarem de fé com o intuito de instigar a mesma no coração das pessoas e as levarem a crer na conquista futura. Esse é um dos pontos comuns na teologia da prosperidade, onde pregadores convencem as pessoas até mesmo fazerem ofertas abusivas na certeza de que a retribuição de Deus é certa. Mas, e quando as pessoas se lançam no “mundo da ilusão” deste tipo de fé dando quase todo o seu sustento confiante na promessa do pregador e aquilo que elas esperavam não acontece? Qual justificativa é dada a elas? É simples, como é de costume desses “Adãos” da teologia da prosperidade: “É porque você não teve fé” e se esqueceu que no dia em que ele pregava o mesmo não colocou essa condição de fé para seus ouvintes, mas sim o de ofertar como atitude suficiente para que Deus fizesse algo.
2.- Síndrome de Adão na Pregação: Estamos vivendo um tempo dentro das igrejas que realmente percebe-se um desinteresse de muitas pessoas em ouvir a palavra, principalmente se o sermão, no culto, não for ao encontro das necessidades dessas pessoas (mas, por outro lado temos que admitir que certos sermões ouvimos pela misericórdia de Deus, porque na verdade não passam de “pregações espadas”: longas e chatas). Homens despreparados sem sabedoria alguma tomam nosso tempo nos púlpitos das igrejas pregando um tanto de baboseira e como se não bastasse você ainda é obrigado a dar “glória a Deus” porque se não, caso contrário, você é um crente frio que não gosta da palavra, e para provar a nossa fé ainda dizem: “Deus me deu uma palavra para essa noite!”. Me desculpem, mas para mim o que Deus deu está na bíblia o que passa disso é pura interpretação nossa. Algumas contamos com a iluminação do Espírito Santo, outras não passam de intuição humana.
3.- Síndrome de Adão no Louvor: É lamentável mas os louvores de nossas igrejas inevitavelmente se tornaram narcisistas, somos adoradores de nós mesmos, “olha pra mim..., vou viver uma virada..., Deus é fiel para cumprir..., toma posse da vitória...” enfim, tudo isso nos leva a adorar a nós mesmos e “fazermos” de Deus uma fonte que devemos sugar até a última gota para saciar nossos desejos. É também interessante a maneira que muitas vezes nos comportamos no período do louvor em nossas igrejas, o “grupo santo” se posiciona no altar, faz a oração para o céu se abrir e começa então o louvorzão, mas de repente parece que algo está travando, impedindo que o louvor chegue “aos céus” ai o que acontece? Os amados “levitas” chamam a igreja para a responsabilidade com conclamações tais como: “feche teus olhos, abra teu coração pra Jesus, esquece teus problemas, não olhe para quem está do seu lado”, e tudo em uma tentativa de buscar resposta para que a coisa possa fluir. Algumas semanas atrás fui convidado pára a festividade de uma igreja, e durante as apresentações um grupo de senhoras se posicionou para cantar alguns hinos, naquele momento o cd não queria tocar, as irmãs erraram a letra do hino, e o que aconteceu? Claro! Um convite da líder do grupo: “Vamos orar porque o diabo não está satisfeito”. Que lástima! Em vez de reconhecer que o cd é de péssima qualidade e que na verdade as irmãs não ensaiaram para cantar o hino é mais fácil acusar o diabo, que por sua vez não manifestou ali para falar que era inocente, afinal de contas pensar que isso era uma ação dele dava ao mesmo respeito.
Não há muito que se possa esperar, na verdade estamos como Adão: encurralados, aflitos, trêmulos, e queremos arranjar uma boa desculpa para justificar os nossos erros, é mais fácil dizer que a culpa é do pastor que não me visitou, do irmão que deixou de me cumprimentar, de alguém que deixou de me ajudar do que reconhecer o meu próprio erro. Talvez esteja faltando em nós a mesma atitude de Jó no dia da sua provação, que é: não acusar alguém! Talvez esteja faltando em nós a mesma atitude de Josué quando se vê derrotado diante do povo de Ai em vez de culpar seus inimigos se humilhou diante de Deus para buscar respostas por causa da derrota sofrida, ou quem sabe fazer como Davi que após o pecado de adultério descoberto pelo profeta Natã não tentou se justificar mas se declarou culpado perante Deus.
A culpa não é a falta de fé! Igualmente devemos compreender que há um propósito de Deus para nós e precisamos levar isto a sério: “porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Fl 2:13)”. Não é literalmente as pessoas que não querem ouvir a pregação, mas de fato o despreparo e a falta do que falar, não é o diabo que está furioso em cima do telhado da igreja para não deixar o louvor subir, mas sim canções que não expressam adoração alguma para Deus.
Que cada um de nós, antes de apontar nosso dedo de acusador correndo o risco até mesmo de acusar injustamente as pessoas que estão próximas de nós, olhemos a partir de nós mesmos: “Onde errei? O que fiz para que isso acontecesse? O que posso fazer ou mudar para rever o dano causado?”. Agindo assim amadureceremos e certamente teremos a oportunidade de aprendermos com os nossos próprios erros.