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Prof. Leonardo Miranda
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A leitura do Evangelho nos mostra o
quanto a vida cristã é simples. Em síntese, basicamente, Jesus encarna, dá
início ao seu ministério, ensina sobre o Reino de Deus e denuncia a natureza
pecaminosa que em nós opera nos impedindo de ter comunhão com Deus. Então
demonstra que não podemos herdar este Reino por condições naturais ou por nosso
próprio esforço e, finalmente, apresenta a solução: morre em nosso lugar. A
sequencia da ação salvífica de Deus se revela a história quando, a partir do
segundo século, a Igreja desenvolve a ortodoxia cristã que é a sistematização
dos ensinamentos de Jesus dados por Ele mesmo ou pelos apóstolos.
Já o imaginário cristão é complexo
devido a todos os ensinamentos distorcidos decorrentes das múltiplas
interpretações da mesma bíblia sagrada. Imaginário aqui é entendido como o
conjunto de usos e costumes culturais específicos que são confundidos com
doutrina bíblica.
De modo geral o imaginário é medonho,
aterrorizante, anti-bíblico, escravizador, confuso e tende a somente nos
afastar cada vez mais do Deus da Bíblia e nos aproximar cada vez mais do deus
do legalismo. E assim, de ano em ano o tempo vai passando, a vida vai
prosseguindo, a maturidade biológica vai se desenvolvendo, mas a maturidade
espiritual não ocorre.
Quantas são as pessoas que poderiam
estar melhor, se desenvolvendo espiritualmente e, consequentemente, em todas as
demais áreas de sua vida, mas estão estagnadas por não entenderem os
fundamentos da fé cristã e muito menos sobre como deve ser uma relação saudável
com Deus. Ora estão presas no individualismo exacerbado, não congregando, não
procurando manter a comunhão com a Igreja e muito menos participando dos meios
de Graça (batismo, pregação da bíblia e ceia); ora estão presas no outro
extremo que é a coletividade: ficam sem identidade própria, bitolados a todas
as atividades relegadas somente ao templo, pois do contrário não saberiam o que
é, o que significa e como é ser cristão.
É interessante perceber que quanto
mais simples se vive a vida cristã, mais liberdade, menos culpa e menos medo
temos em nosso dia a dia. Consequentemente mais espiritualmente maduros ficamos e mais praticamos as disciplinas bíblicas que devem mesmo
ser usuais a todos os cristãos, independente de como administram o seu tempo.
São elas: a oração e a leitura da Bíblia.
Pela oração somos edificados, pois é o
momento de nos sondarmos e falarmos com Deus num processo de autorreflexão; já
pela leitura das Escrituras somos educados por Deus ao mesmo tempo em que temos
o nosso caráter amalgamado pela ação do Espírito Santo. No mais, aprendemos que
a vida cristã é simples a partir de alguns princípios:
1) Antes da Queda a vida era normal;
depois da Queda passou a ser anormal: De acordo com a Bíblia, Deus criou o ser
humano sem pecado e com plenas condições de viver harmonicamente com o restante
da criação. Agostinho, bispo da Igreja localizada em Hipona, afirmou que antes
da entrada do pecado no Éden, era possível não pecar, mas depois da Queda, não
foi mais possível não pecar! Assim sendo, a condição em que qualquer pessoa se
encontra hoje no “estado caído” é de escravidão no pecado e uma vida
completamente anormal. Isto é, em todas as características funcionais que
permitem o ser humano viver, existe a contaminação pelo pecado e a resultante
distorção na sua existência. Somente Cristo, com sua Graça, pode resolver o
dilema do ser humano de ser ao mesmo tempo magnificamente imagem e semelhança
de Deus e terrivelmente pecador e rebelde contra Deus.
2) A Redenção promovida por Cristo
restaura e aponta para o verdadeiro estado de normalidade existencial: Cristo
quando nos redime não está inventando uma nova maneira de crer, pensar e se
comportar. Ele está simplesmente restaurando a comunhão entre Deus e nós ao
mesmo tempo em que está nos libertando do poder condenatório do pecado. Em seus
ensinamentos sobre o Reino, Jesus mostra com sua própria vida como deveria ser
a nossa se em nós não houvesse pecado. Desse modo, Cristo aponta para o nosso
verdadeiro estado de normalidade existencial e nos transforma para assim
vivermos. Mas isto só é possível para aquele que nascer de novo em Cristo.
3) A regeneração não é sinônimo de mutação,
mas, sim, de redirecionamento: Para muitos cristãos, a vida que tinham antes de
Cristo parece mais “fácil” porque já estavam acostumados com ela, como se o
estilo de vida anterior é que fosse o normal. Daí residir a complexidade do
imaginário cristão. Pois tendem a pensar que agora é mais difícil porque tem
que viver de um jeito que, além de não estarem acostumados, ainda por cima, o
fazem ou por medo da futura condenação ao lago de fogo e enxofre ou porque lhes
foi imposto, da parte de Deus, um estilo de vida “não-humano”. Assim, para
estes cristãos, em seu imaginário, a vida cristã é como se fosse uma mutação,
uma imposição a uma forma de vida totalmente anormal e incomum. Mas, na
verdade, é exatamente o contrário: a vida cristã é que é normal e a vida não-cristã
é que é anormal. E o que a regeneração promovida por Cristo faz é nos
redirecionar para a vida normal nos padrões de Deus.
Destes princípios podemos concluir que em toda a
nossa composição existencial, com nossas funções e necessidades biológicas,
sociais, psicológicas e espirituais, não devemos deixar de ser o que somos e
viver como vivemos, pois é através destas funções e necessidades que
interagimos com o restante da criação e temos condições de co-regermos a
criação com Deus. O imaginário cristão nos leva ao dualismo como se houvesse dois mundos: o espiritual e o material, e nos escraviza, pois nos faz tentar negar a nossa natureza com todas as suas funções e necessidades. Mas, a vida cristã, por meio de uma visão cristã de mundo, nos
orienta a vivermos integralmente de modo que todas as nossas funções e necessidades estejam
orientadas pela Bíblia, revelação de Deus para nós, e ao mesmo tempo objetivem
a glorificação de Deus.
Como se pode notar, a vida cristã é
simples e conduz à maturidade espiritual, mas o imaginário cristão, com suas distorções, é complexo e conduz à imaturidade espiritual e estagnação!
Pense nisto!