_____________________Imagem retirada do site: http://2.bp.blogspot.com/
Prof. José A. Nogueira
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A vida humana é estruturada a partir de crenças, valores e comportamentos. As minhas crenças, os meus valores e o meu comportamento e os do outro são as bases para o construção do meu eu. Isto significa que me torno sujeito não apenas com as características inatas que possuo, mas principalmente na relação com o outro. Funciona assim: a partir da crença que uma pessoa possui, ela assume valores e estes mesmos são utilizados para guiar o comportamento individual e coletivo. Assumindo esta prerrogativa vamos pensar um pouco... Por que, mesmo crendo em Deus, às vezes tomamos atitudes impensadas das quais nos arrependemos depois? A resposta está nos valores! Crer por crer somente não basta! Falta uma conexão entre a crença e o comportamento; e esta conexão é o valor. E é sobre isso que vamos ponderar!
De acordo com a filosofia e com o dicionário de língua portuguesa, valor significa “medida variável de importância que se atribui a um objeto ou serviço necessário aos desígnios humanos e que, embora condicione o seu preço não lhe é idêntico. É uma atribuição de significado pessoal a qual se destaca por sua necessidade de maior ou menor importância a cada ser como um indivíduo”. Em simples palavras, podemos entender que valor é o maior ou menor grau de importância que atribuímos sobre alguma coisa. Se algo me encanta, me serve e me satisfaz, então me custa, então é importante para mim, então possui valor para mim.
Em todos os tempos, por causa do pecado, o ser humano adotou como sistema de valores o que seu desejo corrompido almejou! Hoje, principalmente, temos como exemplo de valor adotado pela massa social o consumismo. Mas este tipo de valor tem contribuído para crises de caráter e atitudes pecaminosas tais como ira, rancor ou raiz de amargura, inveja, porfia, brigas e discussões (Hb.2.15/ Tg.3.14-16) dentro e fora da Igreja. Mas Jesus nos convida a substituirmos os valores pecaminosos pelos valores do Reino de Deus, encontrados no Evangelho. Somente quando assumimos valores bíblico-éticos é que teremos condições de nortear nossas ações com coerência! Foi pensando na importância dos valores de Deus para nós que Cristo ensinou: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal.” (Lc.6.45)
O “bom tesouro” é uma alusão aos valores do Reino de Deus. Sabedores disso devemos sempre nos perguntar: Onde está o meu tesouro? Por onde anda o meu coração? De acordo com o Evangelho, alguns desses valores são: arrependimento, discipulado, humildade e maturidade cristã.
Arrependimento. As vezes é preciso lembrar-se do passado e reconhecer as nossas limitações (AP.2:5a). Eu reconheço que preciso ser refeito, “nascer novamente” e isso só se dá pelo poder que Deus tem de mudar a minha vida. Ainda que o homem pudesse voltar no passado e interferir no futuro, como nos filmes de ficção, esta interferência prejudicaria todo o seu presente e traria dor no seu futuro, seria um verdadeiro desastre. Porém, se Deus tem o poder de fazer de um vaso quebrado um novo vaso para honra, Deus pode, muitas vezes, usar a sua dificuldade para arrancar de você o melhor que você tem para a glória dEle e o seu próprio benefício. Você pode dizer: Eu sou fraco, mas Deus é forte; eu sou influenciável, mas Deus não pede conselho para dizer o que deve ou não ser feito. Deus pode, por meio do arrependimento promovido por Ele mesmo no coração humano, transformar um homem ou uma mulher perdido nos falsos valores em homem e mulher de Deus, isto é, com valores do Reino.
Discipulado. O fundamento da relação com Deus é o discipulado. Precisamos entender que somos discípulos. Se eu sou um discípulo, então, obviamente, não sou mestre. Sou aquele que deve seguir. A palavra discípulo tem origem grega: matheteuo que significa “o aluno que segue determinado mestre, pensador e rabino”. Quem é o seu mestre? Se Jesus é de fato o seu Mestre e se você é de fato o seu discípulo, você deve saber que a condição para se tornar um cristão é fazer tudo o que o seu mestre te orientar. Nós devemos pensar como ele pensa; não adianta estar ao lado de Jesus, é preciso mergulhar nele, o Espírito dEle deve habitar em nosso “eu” assim como um simples chá ao ser mergulhado numa água sem cor e sem sabor. Imagine, quando o chá é mergulhado passa a dar a “sua cor” e o “seu sabor” a esse copo com água a tal ponto, que com o passar do tempo haja homogeneidade, isto é, a água, mesmo não deixando sua essência passa a ser tão parecida com a substancia habitada dentro dela que passa a ser conhecida como chá. Ela não mais é uma simples água incolor e insípida, mas passa a ter vida e sabor.
Humildade. O contrário de humildade é o orgulho! Nosso orgulho pode contribuir para nossa derrota! É um valor errado! Geralmente temos dificuldade em assumir nosso orgulho! Tendemos a nos justificar afirmando que somente o Diabo contribui para qualquer tentativa de fracasso em nossa vida, mas, enquanto nos justificarmos o orgulho impedirá o crescimento, a aprendizagem e a mudança com a conseqüente assimilação de novos valores do Reino e maturidade na relação com Deus. Usar frases como: “Eu sempre tenho razão! Não vem com essa de que a crítica constrói porque ela sempre agride a minha auto-estima” e tantas outras do tipo, caracterizam mais uma mentira, ou falso valor, do seu “eu” narcisista e imperialista. Humildade é um constante exercício contra o orgulho! Por que eu não suporto uma crítica? Porque é melhor ser elogiado que criticado, afinal, dói muito menos ou não dói nada ser bajulado que ouvir verdades. A grande dificuldade de se assumir o valor “humildade” é que as verdades do Evangelho vêm de Deus que nos conhece e não concorda em realizar todas as nossas vontades obsessivas que massageiam o nosso ego. O próprio Jesus disse: “Não pensem que vim trazer paz a terra; não vim trazer paz, mas espada” (MT.10.34). É através do colapso que sempre temos tido entre nosso “eu” e a Palavra da Verdade é que crescemos de fé em fé. Apóstolo Paulo já afirmava: “não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito, mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não julgo que o haja alcançado. Mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp.3.12-14).
Maturidade Espiritual. Uma pessoa madura é aquela que “transforma o ambiente”, e, não, aquela que o “ambiente transforma”. No livro Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? encontramos um trecho interessante. O colunista Sydney Harris conta uma história em que acompanhava um amigo à banca de jornal. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pagando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo de Sydney sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desceram pela rua, o colunista perguntou se o jornaleiro sempre o tratava com grosseria, e o amigo prontamente respondeu que infelizmente sim. Perplexo com a resposta, Sydney questionou sobre o porquê de o amigo ser sempre educado diante de um tratamento daqueles e o estimado amigo respondeu: “Porque não quero que ele decida como eu devo agir”. Moral da história: uma pessoa amadurecida é aquela que “transforma o ambiente”, e, não, aquela que o “ambiente transforma”. A maturidade cristã se manifesta da mesma forma: os valores do Reino de Deus estão tão entranhados, tão enraizados no coração humano que experimentou o arrependimento, foi discipulado e é humilde que este não é mais inconstante, levado ao redor por todo vento de falsas doutrinas e falsos valores. Tenha consciência disso! Não se deixe levar pelos acontecimentos ou valores que apenas parecem suprir seus desejos pecaminosos desenfreados; antes, tenha atitude de ser conduzido pela Bíblia Sagrada, pelo Evangelho.
Como já mencionei, não basta crer por crer, é preciso assumir valores bíblico-éticos. Talvez por isso Jesus também ensinou sobre a importância de buscarmos o Reino de Deus em primeiro lugar (MT.6:32,33).
Obviamente que, mesmo assumindo estes valores bíblicos, não encontramos nenhum respaldo bíblico, nenhuma forma de ensinamento das Escrituras Sagradas que nos garante que nos tornaremos perfeitos enquanto tivermos vida terrena! Não! Não é isto! Talvez você se pergunte: como posso deixar de praticar o pecado, conhecido biblicamente como “obras da carne”? Simplesmente não podemos! Podemos lutar contra aquele que ressuscita tais atitudes, porém, as obras da carne são atitudes nossas! Somos moralmente responsáveis diante de Deus! Honestamente, tais valores vêm a nós como conseqüência de sermos alcançados pela graça e iniciarmos um relacionamento com Deus. Assim, o que podemos esperar é que as palavras dos profetas tenham efeito no nosso coração. Esperar que, por meio de Jesus Cristo, a Graça abunde em cada um de nós a fim de que o Espírito Santo nos habite iniciando um verdadeiro processo de reabilitação e re-humanização por causa de nosso estado pecaminoso.
Lembre-se: os “valores da carne” não são os mesmos “valores dados pelo Espírito”! Aquilo que o homem necessariamente atribui valor pelos sentidos e pela ação das emoções reprimidas e descaracterizadas pela ação do pecado, não tem o mesmo valor ou importância para Deus. Deus é Santidade Perfeita, nós somos imperfeitas; Deus é Santidade Absoluta, nós não somos absolutos e nem auto-suficientes; dependemos do controle do Espírito Santo para que possamos andar em novidade de vida perante Deus e os homens. Os valores de Deus são imutáveis, porém, os homens atribuem valores segundo as suas necessidades (I Jo.2:17a / Hb. 13.8). Portanto, assuma os valores que, de fato, também são valores para Deus, pois eles é que são suficientes para a construção do nosso “eu”, a nossa construção como sujeitos.