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domingo, 31 de julho de 2011

Se os teus olhos forem bons: Um olhar cristão contemporâneo sobre a pós-modernidade



Prof. Rodrigo Marcelino
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“Uai! Pós-modernidade? Que bicho é esse?”. Essa foi minha expressão, como um bom mineiro! “Que espírito é esse?”. Completei a pergunta como um bom crente extremamente influenciado pela nova teologia da batalha espiritual surgida no início da década passada.

O ano era de 2001 a primeira vez que tomei contato como tema. Ainda me lembro de quando pedi ao meu pastor algum livro interessante para ler, e do quanto fiquei ansioso quando ele se retirou até o seu gabinete para buscar o livro. Depois de alguns minutos, que para mim pareceram uma eternidade, ele retornou trazendo um livro e no rosto um ar solene daquele que só usamos quando morre alguém ou quando médicos dão notícias de doenças graves aos seus pacientes. Ele me entregou o livro e disse em tom bem pastoral, de alguém que se preocupava em me fazer sentir-se importante: “Rodrigo comprei este livro, e acho que você por ser um bom leitor irá gostar! Leia e depois me conte o que achou”. Eu peguei empolgadíssimo aquele livro, o título da obra era: Fim de Milênio: os Perigos e os Desafios da Pós-modernidade na Igreja.

Confesso que o livro contribuiu e muito, em princípio, para que eu tivesse uma má impressão e, consequentemente, desenvolvesse uma relação muito ruim com a pós- modernidade. Com o tempo amadureci e fiz novas interpretações sobre o referido tema. Assim, baseado na tentativa de esclarecer algumas posturas adotadas em relação a este movimento cultural que proponho este texto.

Uma postura é a “demonização” da pós-modernidade. Durante algum tempo nos habituamos ouvir da boca de pregadores, e da escrita de alguns autores cristãos uma idéia completamente “demonizada” da pós-modernidade. Isto mesmo, “demonizada”! Frequentemente alguns pais cristãos dizem: “nossos filhos estão sendo assediados pelo ‘espírito da pós-modernidade’”, demonstrando que o entendimento religioso popular da pós-modernidade é de que ela é um espírito (demônio ou encosto), que pode, como os demais demônios, ser amarrado, queimado e até expulso. A outra postura é o posicionamento oposto, assumido por aqueles que adotaram a pós-modernidade como seu guia de orientação para a vida espiritual, tornando sua mensagem refém de um padrão cultural que nada tem a ver com as Escrituras Sagradas. Mas, há uma postura mediana, equilibrada, bíblica, que aponta para as inúmeras limitações e disparidades da pós-modernidade em relação ao Cristianismo, mas não a “demoniza”, reconhecendo também suas benesses e será com base nesta postura mediana que seguiremosnossa reflexão.

As principais dificuldades da pós-modernidade estão relacionadas às questões dos valores ético-morais que conflitam com o ensinamento bíblico. Basta olharmos para instituições sérias de nossa sociedade, como a família, e percebemos as dimensões que tomaram: antes para definirmos a existência de uma família era necessário termos um pai (homem) uma mãe (mulher) e filhos. No contexto pós-moderno já temos outras configurações definidas como família: homem com homem, homem com homem e filhos, mulher com mulher, e mulher com mulher e filhos; e até mesmo famílias só de filhos sem pais.

Com se percebe, aquelas lentes bíblicas usadas na percepção da modernidade que enxergavam tudo em preto ou branco, homem ou mulher, macho ou fêmea, certo e errado agora passam a funcionar não mais com estes critérios antagônicos, mas promove um verdadeiro degradê de cores, misturas de posicionamentos, e cada vez maior dificuldade de identificar uma postura como anteposta à outra somente. E há muitos outros exemplos! Eu poderia enumerar aqui um imenso número de conceitos anticristãos propagandeados pela pós-modernidade e, com isso, assumir uma postura radical e absolutamente contrária a pós-modernidade argumentando sobre uma tentativa de retorno à modernidade, mas também seria problemático! Mesmo que eu passasse horas a fio escrevendo sobre os “benefícios” da modernidade, ela também não responde sobre modo de vida cristão e muito menos sobre como deve ser a correta moralidade. Pelo contrário, há um sério problema em se rejeitar a pós-modernidade e aceitar a modernidade como o movimento que supostamente parece fazer justiça ao paradigma Cristão. Então fica a pergunta: Se a modernidade não é boa e a pós-modernidade também apresenta falhas, o que deve ser feito?

Muito simples! O que se deve fazer é a busca pelo retorno ao ensinamento das Escrituras, independentemente do que estamos vivendo e assim olharmos para o que existe de proveitoso na pós-modernidade! Desse modo, quero com o restante deste texto te convidar a lançar um novo olhar sobre essa pós-modernidade.

Normalmente, quando pensamos em Cristianismo no ambiente nos dias de hoje, tomamos uma postura de defesa e ataque. Pensamos o Cristianismo com categorias da modernidade e tendemos a ver ambos de “mãos dadas” como movimentos iguais e contrários a pós-modernidade. Creio que já deixei claro que não faço apologia nem à modernidade e nem à pós-modernidade. Para mim, ambas apresentam problemas em suas visões de mundo.

Então, o que se sugere é que o cristão reflita sobre o conceito e a funcionalidade da pós-modernidade. Alguns a chamam de um período histórico, outros a chamam de um movimento social. Entretanto, do ponto de vista filosófico-teológico dizer que vivemos em um mundo pós-moderno, abordando sua pretensa historicidade e sua suposta capacidade de envolvimento na mentalidade social, como gostam de alarmar alguns, pode ser muito perigoso, pois tal declaração significa considerar a pós-modernidade como um movimento estanque que pode ser definido cronologicamente na história como tendo “começado em” e “vai terminar em”. Todavia que tal se revermos o seu conceito e considerarmos a pós-modernidade como um movimento cultural, que permeia todas as instâncias da vida humana? E que é possível vivermos o cristianismo como um sistema de vida dentro desse novo movimento cultural sem abrirmos mão de peculiaridade do Evangelho?

Como bem disse certo pastor: “tanto a modernidade quanto a pós-modernidade são feitas de riscos e oportunidades como todo movimento cultural”. Os riscos podem ser percebidos com facilidade nas críticas dos pregadores e autores cristãos como já mencionei, já as oportunidades...! É preciso um olhar mais atento para percebê-las. Vejamos algumas oportunidades que poderiam ser aproveitadas por nós cristãos na propagação do evangelho:


· O equilíbrio entre emoção e razão: Contrapondo-se ao ideal racionalista da modernidade que estimulava o homem a deixar em segundo plano ou desprezar as emoções, a pós-modernidade estimulou o homem a valorizar as emoções como algo intrínseco a inteligência, aja vista as empresas pararem de avaliar as potencialidades de seus funcionários baseadas no QI (quociente intelectual) e passarem a avaliar baseadas no QE (quociente emocional).

· O retorno a busca da espiritualidade: Outra postura que percebemos na pós-modernidade é o interesse dos homens por questões espirituais. É possível encontrar na lista dos livros mais vendidos, sempre algum livro que mencione questões espirituais, algo do que o homem moderno procurou se afastar, como se interessar por questões espirituais fizesse dele alguém menos racional.

· A prática da apologética cristã com mais liberdade: Para mim que sou professor da disciplina Apologética no Seminário e um apreciador da apologética pressuposicional (um tipo específico de argumentação), creio que seja nesta área do conhecimento teológico que mais benefícios podemos extrair ao nos relacionarmos com a pós-modernidade. Ao se praticar a apologética pressuposicional dentro da modernidade havia sempre a crítica daqueles que acreditavam na neutralidade científica (o estudioso aproximando-se de seu objeto de estudo imparcialmente, destituído de todas as paixões e completamente livre de pressupostos que poderiam interferir na sua avaliação). Já na pós-modernidade não só é aceito pela comunidade teológica, filosófica e científica a possibilidade de nos aproximarmos do objeto de estudo municiados de paixão como também é compreendido e apregoado a inevitabilidade de pressupostos.


Logo, antes de demonizarmos a pós-modernidade e dela extrairmos apenas o pior ou a usarmos levianamente como modelo ou guia de espiritualidade relativista, ousemos olhar para ela como mais um movimento feito de riscos e oportunidades, e discernindo o que disse Jesus: “Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz”. Olhemos para a pós-modernidade com os olhos que Jesus a veria discernindo as moscas dos camelos, coando o que deve ser coado e engolindo o que pode ser engolido!

Em Cristo desejo-vos a paz!

sábado, 23 de julho de 2011

Loucura da pregação ou Pregação da Loucura

Pastor Márcio Alves Leão
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Lembro-me no início da minha conversão o quanto eu era edificado pelas pregações daquela época; mensagens que me levaram cada vez mais a desejar e buscar a presença de Deus, mensagens que promoviam em meu coração arrependimento e me convenciam do quanto eu era carente do perdão de Deus.

Foi por meio da pregação do evangelho que eu aprendi a respeito do amor de Deus. Não me esqueço do quanto fiquei comovido e quebrantado quando meditava no capítulo 17 do evangelho segundo João. Minha alma se regozijou ao ler o versículo 20 e perceber que Jesus estava intercedendo não somente pelos discípulos daquela ocasião, mas também pela minha vida. Em sua oração Jesus disse ao Pai que a sua interseção era por aqueles que viriam crer nele por intermédio da palavra.
A partir disso eu compreendi que esse é o objetivo da pregação, levar as pessoas a crerem em Jesus, o Filho de Deus, que morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia para que nEle fôssemos reconciliados com Deus.

Essa era a mensagem que ocupava os sermões dos discípulos, que tinham como objetivo principal em suas pregações argumentar aos seus ouvintes sobre a  justa ira de Deus e ao mesmo tempo o Seu amor que chega clímax quando Ele entrega seu filho na cruz como oferta pelos nossos pecados (Jo. 3:16 / II Co.5:18-21). “Deus encarnado? Que morreu na cruz? E ressuscitou ao terceiro dia? Isso é loucura! É o que muitos pensavam naquela época e pensam hoje.

Homens foram perseguidos e silenciados por causa dessa pregação; Tiago, Estêvão e muitos outros. Houve também o evento dos sacerdotes que tentaram silenciar Pedro e João para que não ensinassem mais em nome de Jesus; Paulo e Silas açoitados e lançados no cárcere, e no discurso de Paulo aos atenienses em (At 17:17-34) o mesmo foi interrompido porque para os filósofos epicureus e os estóicos, a ressurreição e o juízo eram delírio de um louco.

Paulo diz que a mensagem da cruz é loucura para os que perecem (I Co 1:18). Falar do amor de Deus na perspectiva da cruz é mesmo loucura para aqueles que não têm entendimento, querer compreender plenamente esse amor a partir da sabedoria humana é algo impossível. É por isso que o apóstolo dos gentios diz que Deus salva os que crêem pela loucura da pregação (I Co 1:21). Para os homens é loucura porque isso só é possível acreditar por meio da fé.

Muitas pessoas nas igrejas não têm noção de quantos homens perderam suas vidas por causa dessa pregação, homens que abandonaram tudo e se dedicaram para anunciar o evangelho da cruz, homens que marcaram a história da teologia, outros cujos nomes ficaram no anonimato, mas contribuíram com suas vidas para que esse evangelho chegasse até nosso tempo.

Ser cristão na coréia do Norte, por exemplo, é algo perigoso, por isso o país ocupa, pelo sexto ano consecutivo, a primeira posição na classificação de países perseguidos por causa do Cristianismo[i]. O Estado não hesita em torturar e matar qualquer um que possua uma Bíblia, seja por envolvimento no ministério cristão, seja pela organização das reuniões, ou até por se manter contato com outros cristãos, como também ocorre na China. Os cristãos que sobrevivem às torturas são enviados para os campos de concentração. Lá, as pessoas recebem diariamente alguns gramas de comida de má qualidade para sustentar o corpo que trabalha por 18 horas. A menos que aconteça um milagre, ninguém sai desses gigantes campos com vida. Tudo isso porque creram por meio da loucura da pregação.

Mas hoje voltando nosso olhar para a igreja cristã brasileira da atualidade, ouvindo suas mensagens, campanhas, movimentos, etc. fica a pergunta: vivemos ainda o tempo da Loucura da pregação ou ela se transformou em Pregação da Loucura. Porque segundo o que a Bíblia nos permite dizer é que a pregação do evangelho é loucura para os que perecem e não para a igreja, mas hoje, a mensagem que alcança espaço na mídia, que enche os templos, é na verdade uma Pregação de Loucura, não só para os que perecem, mas principalmente para a igreja de Cristo! Perdeu-se o foco da mensagem, é como se substituíssemos o Cordeiro tirando-o da cruz e crucificando em seu lugar a “casa, dinheiro, emprego, porta aberta” como se tais coisas fossem a solução de nossas vidas! “Gruta milagrosa, água do rio Jordão, terra do monte Sinai, chave da vitória, unção do emagrecimento, campanha do achado, etc;” em fim, o que tais coisas têm haver com a pregação do evangelho? Em que elas poderiam contribuir para a vida eterna? Vivemos hoje uma igreja que tem perdido sua identidade, onde inventamos modismos para aumentar o número de membros de “nossas” igrejas, um mercado capitalista: “- Quem dá mais pelas ovelhas?”

Tais coisas na verdade a meu ver caracterizam a pregação de loucura, que não nos leva a lugar nenhum a não ser somente saciar a nós mesmos. Onde estão as mensagens como, por exemplo, de Jonathan Edwards, “pecadores nas mãos de um Deus irado”, que levava as pessoas a se agarrarem nos bancos reconhecendo seus pecados diante de Deus.

John Piper em seu livro, Deus é o Evangelho diz: A doutrina do evangelho é importante porque as boas-novas são tão ricas, abundantes e maravilhosas, que têm de ser abertas como um cofre de tesouro; e todas as suas preciosidades expostas para o gozo do mundo. (PIPER John, Editora Fiel da Missão Evangélica Literária, 2006).

O meu clamor é que Deus desperte homens e mulheres, capacitando-os com toda eloqüência, revestidos do Espírito para resgatar nos púlpitos das igrejas a essência da pregação do evangelho, a loucura da pregação, somente assim Deus voltará a ser o centro dos nossos cultos.

A Ele seja a glória, a honra e o louvor para todo sempre.



[i] Informação extraída do site Missão portas abertas.

sábado, 16 de julho de 2011

Pastor sem Pastor

Prof. Paulo Rogério da Cunha

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Na minha juventude lembro-me de um pastor que se apresentava todo sábado de manhã num programa de televisão. Eu me sentia confortado e com “gás” renovado através de suas mensagens e conselhos. E imagino quantas pessoas chegaram ao conhecimento de Cristo através daquele homem e programa. Porém, este pastor caiu em pecado, sendo acusado de cometer adultério. Caiu em desgraça, e tudo o que foi construído, foi jogado por terra. Muitos tiveram a sua fé balançada e abandonaram a carreira cristã. Porém, nesta reflexão não quero enfatizar a fé destas pessoas, o quanto foi sacudida, se elas foram salvas ou não em Cristo, quero é pontuar uma questão que ainda hoje, muitos não têm uma resposta na ponta da língua: "Por que pastores caem?”

Se voltarmos ao passado veremos que na história da igreja muitos pastores e líderes caíram. Poderíamos elencar causas e mais causas para a queda destes homens de Deus, contudo, vejo uma das que tem crescido nas últimas décadas: “pastor que não é pastoreado”. Já percebeu que pastor não é pastoreado? A Igreja veio a existir para que os salvos pudessem crescer e edificar-se mutuamente. Desde os Atos dos Apóstolos, Deus capacitou pessoas para serem os meios deste processo, estes são os pastores e líderes. Foi-lhes imputado a responsabilidade de ensinar, exortar, corrigir, consolar e pastorear. Agora, percebem, que o contrário não existe, a igreja não possui ninguém para exercer estes papéis com seus pastores? Alguém junto deles para fazer este papel tão importante.

Pastor, precisa crescer, amadurecer, ser cuidado, ser zelado. Ele não é um ser sobrenatural ou super-hiper-mega ser humano. Pastores são pessoas como quaisquer outras. Têm seus problemas pessoais, financeiros, familiares, conjugais, até ficam doentes! Adquirem males, como hipertensão, bronquite, depressão e, para aqueles que duvidam, até morrem! OK, alguns deles até acham que isto que escrevi é mentira. Eles mesmos se colocam como super-heróis, cheios de truques, poções mágicas e capacidades especiais, que com um toque seu, resolvem todos os problemas. Infelizmente, este tipo de pensamento, foi criado por meio de nós mesmos, a Igreja.

Para muitos membros, pastores nem pecam. Pois é, alguns deles colocaram isto em suas mentes e vivem como se não pecassem, se acham e consagram-se seres “quase” divinos. Por isto, vem se acumulando nos últimos vinte anos uma geração de pastores auto-suficientes. Uma vez que não precisam de ninguém, este grupo faz o que lhes dá na “cabeça”, e ainda usam frases ultrapassadas e sem valor para a situação que vivem, como: "Não se levante contra o ungido do Senhor"! Muitos passaram a pertencer a um nível mais alto de espiritualidade dentro da igreja, e estão sem pastoreio e acham que estão pastoreando. Porém, isto vai contra o Ensino Bíblico. Com a perpetuação desta mentalidade no meio evangélico, a Igreja volta para a Idade Média, instituindo novamente o clero e o laicato – pequenos reinos, dominados por senhores feudais. O que a Bíblia condena e o que os reformadores lutaram para tirar da igreja, agora ganhou uma nova vestimenta evangélica. Isto tem causado grandes feridas na vida da Igreja. Quantas denominações evangélicas surgiram por causa de um "Deus me revelou", muitas vezes pronunciado por um pastor revoltado contra uma liderança que ousou questioná-lo? Os pastores não estão sendo pastoreados como cristãos, por isso, muitas vezes estão livres para fazerem o que bem entendem. Os pastores não possuem ninguém a quem devam prestar contas de seus atos. Talvez alguns possam dizer: "Você está enganado! Existem as convenções, os presbitérios, os colegiados, etc.”. Tudo bem, pode até existir mesmo, mas, quando são confrontados em suas atitudes, sabem o que fazem? Rompem com suas denominações e criam as suas próprias igrejas, onde são os senhores absolutos e donos inquestionáveis da verdade.

Precisamos como estudiosos da Palavra de Deus, analisarmos que quando um pastor cai, é porque lá atrás não havia alguém para orientá-lo ou para ele prestar contas. Precisamos criar uma nova ordem pastoral, onde sejam mais humanos e menos sobrenaturais; mais conscientes que são pecadores salvos e menos “santos” aos seus próprios olhos; mais praticantes do amor e menos profissionais da fé. Precisamos de homens que encarem a missão de ensinar e discipular os mais jovens ao chamado pastoral, a fim de ensiná-los a pastorear com sabedoria, ao invés de enxergá-los como concorrentes em potencial. Creio que se os “grandes” pastores que caíram tivessem sido pastoreados de perto, talvez suas quedas pudessem ter sido evitadas, bem como as mazelas provocadas por elas.

Soli Deo Gloria.

sábado, 9 de julho de 2011

Amizade: dádiva de Deus ou armadilha do Diabo?

Prof. Leonardo Miranda
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Ontem me encontrei com um amigo! Fazia quase dois anos que não nos víamos! Ele, como de costume, não me deu um abraço ou sequer esboçou aquela reação tradicional dos gestos espalhafatosos e gargalhadas altas típicos do brasileiro! Mas, já iniciou nossa conversa brincando a seu estilo dando assim, o seu peculiar sinal de que estava feliz em me ver.

De um simples encontro proposital, uma simples visita que decidi fazer em sua loja de artigos para informática no novo endereço, que planejei que durasse não mais que 10 a 15 minutos, ficamos pouco mais de 1 hora conversando sobre nosso assunto favorito: teologia e nossa leitura sobre a situação da Igreja Evangélica Brasileira. Ficamos ali como se realmente tivéssemos mesmo muito a acrescentar um para o outro. Trocamos os novos números de telefone e endereço e marcamos um reencontro; desta vez, acompanhados das esposas!

O interessante de se rever um amigo, como me disse certa ocasião outro amigo, é que duas pessoas podem ficar até 10 anos sem se verem, mas se forem amigas de verdade, quando se encontram é como se tivessem se encontrado no dia anterior! O carinho é o mesmo, a atenção é a mesma, o respeito é o mesmo e as “caçoadas” são as mesmas! Obviamente que haverá mais novidades, mais maturidade decorrente das experiências de vida, uma visão mais ampla e mais crítica da realidade, mas nada que mude a essência da amizade. Esta essência é bíblica! Fiquei muito feliz em rever meu amigo! Da lembrança noturna deste encontro iniciei esta reflexão que ora compartilho!

Infelizmente hoje percebemos certo distanciamento dos princípios bíblicos decorrente de distorções nas Escrituras, com interpretações alienantes e, consequentemente, imprudentes. Não há consideração pelo contexto em que foram produzidos os mais diversos ensinamentos bíblicos, apenas uma tentativa de contextualizá-los, de forma honesta ou manipuladora, mas que resulta da mesma forma em desvirtuamento e engano. O resultado é uma vida de incertezas, dúvidas, culpas, traumas e separatismo comportamental como se qualquer amizade, principalmente fora dos círculos cristãos, fosse uma armadilha do Diabo.

É mesmo impressionante o que se ensina contra a amizade! Deformidades doutrinárias têm sido criadas no seio cristão sob a alegação de novas revelações ou novas compreensões dadas e percebidas por uma espécie de um “6º sentido” místico conhecido popularmente como “sentido espiritual” que é oculto ao sentido literal e dado somente aos iluminados. Os possuidores desta forma de “espiritualidade” ensinam sem nenhum pudor que “... o amigo do mundo é inimigo de Deus” (Tiago 4:4) e “maldito é o homem que confia no homem [... mas] bendito é o homem que confia no Senhor” (Jeremias 17:5 e 9). Com isso, sem o menor cuidado em buscar o correto sentido para textos isolados, ensinam abertamente sob a capa protetora do misticismo exacerbado que nossa única amizade deve ser com o Senhor Jesus e não podemos confiar em mais ninguém!

A situação chega a tal ponto que, por meio do ensino sobre a dualidade entre a batalha cósmica do bem contra o mal, embutido nos discursos de batalha espiritual de alguns segmentos ditos “evangélicos”, onde se ensina que Deus e o Diabo ficam lutando o dia todo para disputar a vida do ser humano, qualquer que seja este, o cristão deve tomar muito cuidado porque uma oração contrária, um jejum contrário ou mesmo uma palavra ou olhar de inveja podem destruir a sua vida! Portanto, ninguém nunca pode saber de seus projetos ou suas ações até que elas estejam terminadas, concluídas, para que tudo dê certo; e muito menos de suas dificuldades ou angústias. Muito provavelmente, tanto quem ensina esta falsa doutrina, quanto quem acredita nela não deve conhecer a história de amizade entre Davi de Jônatas (1º Samuel 18:1-5 e 20:1-42) e muito menos o texto: “Portanto confessai os vossos pecados uns para os outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tiago 5:16).

Talvez você pense, “... mas isso hoje não é mais possível” ou “este argumento é ingênuo, pois realmente não posso confiar em todas as pessoas, nem mesmo as que fazem parte da Igreja”. De fato! Não é mesmo possível confiar em todas as pessoas que hoje fazem parte da Igreja, e muito provavelmente naquela época em que o texto foi escrito também não, e certamente que em nenhum momento da História do Cristianismo não foi possível confiar em todos os pertencentes da religião. Até porque há diferentes graus de maturidade na fé e algumas pessoas sempre se encontrarão naquele estágio de “eternos neófitos” (eternos novos convertidos), ou seja, nunca amadurecerão para uma relação mais íntima com Deus, consigo e com as demais pessoas. Contudo, o aconselhamento cristão, a ética cristã, a comunhão apregoada nas Escrituras neotestamentárias e o fato de que os ensinamentos nelas contidos não terem sido escritos por acaso, mas foram inspirados por Deus, servem como evidências que apontam para a possibilidade e a importância das amizades verdadeiras, consolidadas pela ação redentora de Jesus e pela obra do Espírito Santo na transformação do caráter.

E toda esta conclusão pela ótica da Teologia! E o que dizer das conclusões viáveis pela ótica das ciências humanas? Por meio de seu estudo descobrimos que o ser humano tem necessidades individuais de estar bem consigo, isto é, estar em equilíbrio emocional e se aceitar com suas virtudes e suas falhas, e necessidades sociais de ser aceito pelo outro e aceitá-lo também dentro dos mesmos parâmetros, ou seja, com as virtudes e as falhas. Nenhum ser humano é uma ilha!

E num diálogo entre a Teologia e as ciências humanas? O que se conclui? Qual o resultado desta “conversa”? Simples: considerando a existência e manifestação da Trindade (Deus como Pai, Filho e Espírito Santo) nem entre o ser divino existe isolacionismo, mas sim três pessoas divinas que convivem harmoniosamente entre si, numa relação que chamamos de pericorese. É com base na existência da Trindade e considerando que o ser humano é a Imagem e Semelhança de Deus, que podemos afirmar que homem e mulher não foram criados para viver isolados e de modo egoísta. Antes, é por isso que possuem a necessidade social de serem aceitos e aceitarem o outro. Dessa dedução podemos afirmar até mesmo a possibilidade de verdadeira amizade entre cristãos e não cristãos dentro dos limites éticos estabelecidos pela bíblia, afinal, amizade de verdade nunca significou perfeição ideológica com ausência de falhas ou desapontamentos. Não fomos chamados por Cristo como Igreja para vivermos fora deste mundo, mas sim, para vivermos nele com uma visão comprometida com os valores do Reino de Deus, fazendo a diferença, principalmente religiosa e ética (João 17:11 e 15).

Como já mencionei o resultado deste tipo de ensinamento distorcido extraído de textos bíblicos isolados, desvinculados de seu respectivo contexto contra a amizade, é uma vida supostamente cristã, porém completamente desvinculada das relações sociais dentro e fora do ambiente familiar, da instância religiosa, e nos âmbitos profissional e escolar. Uma indução clara ao individualismo e ao egoísmo. É necessário que se entenda o que está por trás destes ensinos. Aponto o que acredito serem as principais causas:

1º) A autonomia da subjetividade: Quem lê a bíblia e a interpreta tomando para si ou ensinando para outros sob o pretexto do “sentido espiritual” desvinculado do sentido histórico e da intenção do autor inspirado, faz isso justificando-se pela esfera do misticismo que, se não for coerentemente vivido, pode trazer mais prejuízos espirituais e emocionais do que benefícios. O intérprete tende a desprezar os princípios da hermenêutica bíblica alegando que tal exercício “esfriaria sua fé ou espiritualidade”.

2º) O valor exagerado dado ao misticismo: Como vários autores têm percebido e escrito, nosso país é religiosamente plural. A miscelânea religiosa provocada pelo contado inter-religioso e mais especificamente o sincretismo de crenças que tem sido absorvido pela Igreja, pela falta dos devidos limites ético-bíblicos, possibilita que muitos cristãos tenham medo de “forças do mal” presentes na realidade. Por meio destes ensinamentos as pessoas são levadas a terem medo umas das outras; são vistas como portadoras de inveja, cobiça e calúnia. Há também os momentos em que todas as ações humanas são demonizadas, isto é, são frutos da ação de demônios usando as pessoas contra o cristão. Contudo, este mesmo cristão se esquece que ele não está recebendo este ensinamento sozinho; pelo contrário, ele está num ambiente coletivo e muito provavelmente outras pessoas dentro do templo, estão pensando a mesma coisa dele. É mesmo lamentável que estes ensinamentos sejam evidenciados, além das demais religiões, igualmente, no cristianismo evangélico de vertente menos histórica, principalmente da segunda metade do século XX em diante.   

3º) O valor distorcido dado ao pragmatismo: Na tentativa de contextualização do ensinamento bíblico, linguagens, modismos e práticas estranhas ao Evangelho, vindas de outras religiões são realizados de modo completamente acrítico e pragmático. Em outras palavras, quando alguém ensina as falsas doutrinas contra a amizade e outros princípios bíblicos, é como se dissesse: “está dando certo, então é porque está certo!”

4º) A falta de conhecimento coerente da Bíblia: Vários são os textos bíblicos que apontam para a importância de se conhecer a Bíblia. Não por ser ela um livro meramente ético, mas por se tratar do livro inspirado por Deus e apto para educar o cristão, trabalhando em seu caráter, moldando-o conforme o propósito salvífico de Deus, cuja principal realização na cruz não foi ensinar o individualismo e o egoísmo, mas sim, providenciar a vida eterna para que o ser humano viva em comunhão com o divino e com o próximo.      

Enfim, a amizade é bíblica sim! É uma dádiva de Deus! Com quem quer que seja, desde que sejam considerados os limites ético-bíblicos! Por isso, deixo um provérbio bíblico para nossa meditação; da mesma bíblia usada erroneamente para separar cristãos:

“Em todo o tempo ama o amigo, e na angústia nasce o irmão.” (Provérbios 17:17)

Pense nisso!