Prof. Paulo Rogério da Cunha
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Na minha juventude lembro-me de um pastor que se apresentava todo sábado de manhã num programa de televisão. Eu me sentia confortado e com “gás” renovado através de suas mensagens e conselhos. E imagino quantas pessoas chegaram ao conhecimento de Cristo através daquele homem e programa. Porém, este pastor caiu em pecado, sendo acusado de cometer adultério. Caiu em desgraça, e tudo o que foi construído, foi jogado por terra. Muitos tiveram a sua fé balançada e abandonaram a carreira cristã. Porém, nesta reflexão não quero enfatizar a fé destas pessoas, o quanto foi sacudida, se elas foram salvas ou não em Cristo, quero é pontuar uma questão que ainda hoje, muitos não têm uma resposta na ponta da língua: "Por que pastores caem?”
Se voltarmos ao passado veremos que na história da igreja muitos pastores e líderes caíram. Poderíamos elencar causas e mais causas para a queda destes homens de Deus, contudo, vejo uma das que tem crescido nas últimas décadas: “pastor que não é pastoreado”. Já percebeu que pastor não é pastoreado? A Igreja veio a existir para que os salvos pudessem crescer e edificar-se mutuamente. Desde os Atos dos Apóstolos, Deus capacitou pessoas para serem os meios deste processo, estes são os pastores e líderes. Foi-lhes imputado a responsabilidade de ensinar, exortar, corrigir, consolar e pastorear. Agora, percebem, que o contrário não existe, a igreja não possui ninguém para exercer estes papéis com seus pastores? Alguém junto deles para fazer este papel tão importante.
Pastor, precisa crescer, amadurecer, ser cuidado, ser zelado. Ele não é um ser sobrenatural ou super-hiper-mega ser humano. Pastores são pessoas como quaisquer outras. Têm seus problemas pessoais, financeiros, familiares, conjugais, até ficam doentes! Adquirem males, como hipertensão, bronquite, depressão e, para aqueles que duvidam, até morrem! OK, alguns deles até acham que isto que escrevi é mentira. Eles mesmos se colocam como super-heróis, cheios de truques, poções mágicas e capacidades especiais, que com um toque seu, resolvem todos os problemas. Infelizmente, este tipo de pensamento, foi criado por meio de nós mesmos, a Igreja.
Para muitos membros, pastores nem pecam. Pois é, alguns deles colocaram isto em suas mentes e vivem como se não pecassem, se acham e consagram-se seres “quase” divinos. Por isto, vem se acumulando nos últimos vinte anos uma geração de pastores auto-suficientes. Uma vez que não precisam de ninguém, este grupo faz o que lhes dá na “cabeça”, e ainda usam frases ultrapassadas e sem valor para a situação que vivem, como: "Não se levante contra o ungido do Senhor"! Muitos passaram a pertencer a um nível mais alto de espiritualidade dentro da igreja, e estão sem pastoreio e acham que estão pastoreando. Porém, isto vai contra o Ensino Bíblico. Com a perpetuação desta mentalidade no meio evangélico, a Igreja volta para a Idade Média, instituindo novamente o clero e o laicato – pequenos reinos, dominados por senhores feudais. O que a Bíblia condena e o que os reformadores lutaram para tirar da igreja, agora ganhou uma nova vestimenta evangélica. Isto tem causado grandes feridas na vida da Igreja. Quantas denominações evangélicas surgiram por causa de um "Deus me revelou", muitas vezes pronunciado por um pastor revoltado contra uma liderança que ousou questioná-lo? Os pastores não estão sendo pastoreados como cristãos, por isso, muitas vezes estão livres para fazerem o que bem entendem. Os pastores não possuem ninguém a quem devam prestar contas de seus atos. Talvez alguns possam dizer: "Você está enganado! Existem as convenções, os presbitérios, os colegiados, etc.”. Tudo bem, pode até existir mesmo, mas, quando são confrontados em suas atitudes, sabem o que fazem? Rompem com suas denominações e criam as suas próprias igrejas, onde são os senhores absolutos e donos inquestionáveis da verdade.
Precisamos como estudiosos da Palavra de Deus, analisarmos que quando um pastor cai, é porque lá atrás não havia alguém para orientá-lo ou para ele prestar contas. Precisamos criar uma nova ordem pastoral, onde sejam mais humanos e menos sobrenaturais; mais conscientes que são pecadores salvos e menos “santos” aos seus próprios olhos; mais praticantes do amor e menos profissionais da fé. Precisamos de homens que encarem a missão de ensinar e discipular os mais jovens ao chamado pastoral, a fim de ensiná-los a pastorear com sabedoria, ao invés de enxergá-los como concorrentes em potencial. Creio que se os “grandes” pastores que caíram tivessem sido pastoreados de perto, talvez suas quedas pudessem ter sido evitadas, bem como as mazelas provocadas por elas.
Soli Deo Gloria.
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