Pr. Márcio Leão
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Talvez você possa achar um pouco arrogante da minha parte escrever sobre isso, mas lamentavelmente é o que se percebe na igreja da atualidade, um descompromisso tão grande ante a sociedade que muitas deveriam se perguntar: “De fato, qual a sua relevância para a comunidade a qual ela está inserida?”
Primeiramente é bom ressaltar qual o “conceito” de igreja, ou melhor, o que a igreja se tornou para muitos. Na década passada um grupo de pastores, em São Paulo, chegou a conclusão que as atividades de dezenas de milhares de igrejas, giram em torno de quatro idéias centrais: 1. O prédio da igreja ou o “templo”
2. O domingo, o “sabá cristão”
4. O pastor de tempo integral
Ser igreja significa ter propriedades de verdade: terreno e prédio. Se ele for novo, sentimo-nos bem com isso. Se for velho, sentimo-nos um pouco desconfortáveis. Dificilmente, percebe-se um grupo de cristãos se ele não tiver um prédio.
Ser igreja é “guardar o sabá”, o dia em que adoramos e servimos ao Senhor. Os muçulmanos, por exemplo, adoram na sexta-feira; os judeus, no sábado; e os cristãos, no domingo.
Ser uma igreja significa ter culto de adoração. O culto de adoração é o momento em que a pessoa encontra Deus, e no qual Deus alcança o perdido. A preparação da liturgia acontece ao longo da semana para que as músicas, o drama, os testemunhos e a pregação sejam tão agradáveis e convincentes quanto for possível. A “adoração” precisa tocar no coração das pessoas, falar com elas, para que assim estejam preparadas para receber a Palavra que será ministrada pelo pastor.
Em muitas partes do mundo, ser igreja significa ter um pastor de tempo integral. Na linguagem tradicional, o pastor é “o homem de Deus”. Os pastores, diferente dos demais, foram treinados para o ministério. Eles entendem Deus melhor que nós. Os pastores sabem como organizar e estruturar a igreja melhor que nós. A igreja se encontra incompleta sem o pastor.
Em síntese, o prédio da igreja, a vida cristã centrada no domingo e o altamente poderoso culto de adoração dirigido pelo “soberano pastor” constituem as características em que centenas de milhões de crentes definem como igreja. Mas, ao fazermos a leitura de Atos 2: 42 – 47 nos deparamos com um conceito contrario ao que definimos como igreja na atualidade; muito diferente mesmo.
O que observamos na verdade é uma igreja que vivia em uma profunda koinonia (comunhão), perseverança na doutrina, temor, piedade, comprometimento, enfim, uma mudança de caráter de maneira que se pode até dizer que o meio mais eficiente que tinham para pregar o evangelho era a prática do mesmo.
E o que fizemos com tudo isso? Pegamos toda a vida comum da igreja e “encaixotamos” dentro do templo e a limitamos às características supracitadas. Se observarmos, dos muitos livros que tratam de igreja na atualidade, pouco se fala das pessoas como igreja, mas sim do templo, por exemplo, o livro Uma igreja com propósito – Rick Warren, Editora Vida, basicamente se resume em fazer algo que atraia as pessoas e maneiras que promovam o crescimento, um dos comentaristas do livro chega a dizer: “Depois de Atos, aqui está o melhor, mais prático e o mais rico ensino sobre o crescimento da igreja”.
Como pastor, fico a me perguntar, até quando os lideres das igrejas locais ficarão preocupados em desenvolver algum trabalho para promover o “crescimento” numérico de “suas” igrejas? Antes eram os cristãos que caíam na simpatia do povo (At 2:47), hoje é o templo e o que se faz dentro dele que deve agradar as pessoas. Acrescentamos o que na verdade Deus deveria acrescentar, deixamos o papel de igreja e assumimos distorcidamente o “papel” do Espírito. Estamos mais preocupados em fazer ou pregar algo que agrade as pessoas e pouco preocupados em viver a verdadeira vida cristã. Como um pastor disse em uma formatura: A melhor maneira de se pregar teologia é na pratica.
A “igreja local” perdeu sua credibilidade porque a igreja que vive dentro dela deixou de ser igreja, não discipulamos mais cristãos, fabricamos “conquistadores”, tratamos as pessoas dentro do templo como “doentes”, não importa o tempo que elas freqüentam os cultos, sempre falaremos de seus anseios e lutas, não formamos Cristo nas pessoas, mas despertamos nelas um espírito narcisista, e quando a fonte secar, elas irão embora procurando outra igreja que lhe atenda. Infelizmente as pessoas não estão mais interessadas em ouvir sobre o que Deus fez na cruz, mas sim do que Ele pode fazer hoje, agora com base em suas necessidades egoístas. Caso contrário não tem sentido servi-lo.
Como os reformadores Martinho Lutero e João Calvino insistiram, a verdadeira igreja está centrada na Palavra e no Espírito. A igreja é o local em que Jesus é glorificado, em que o Espírito é ativo e em que o coração dos crentes é incitado com amor e zelo. Ao longo da história do cristianismo, no entanto, quando a Igreja ficou preocupada consigo mesma (com a própria aparência e organização), sofreu de anemia espiritual. A igreja local perdeu sua credibilidade porque as pessoas não cuidam mais uma das outras, não existe mais koinonia sincera. Perdeu credibilidade porque tornou o estilo de vida cristã em mais uma religião. Perdeu credibilidade porque vive em meio a uma sociedade como se não estivesse no meio dela. Que sentido faz haver uma igreja local se esta não tiver, entre muitos, o objetivo de influenciar a comunidade a qual está inserida com a responsabilidade social evangeliadora?
Charles Colson, autor do livro E agora Como Viveremos?, CPAD, tratando da influencia da cosmovisao cristã na sociedade diz:
Evangelismo e renovação cultural são, ambas, tarefas divinamente ordenadas. Deus exercita a sua soberania de duas maneiras: através da graça salvadora e da graça comum. Estamos bem familiarizados com a graça salvadora; é o meio através do qual o poder de Deus chama pessoas que estão mortas em suas transgressões e pecados para uma nova vida em Cristo. Como servos de Deus, devemos ser agentes de sua graça salvadora, evangelizando e trazendo pessoas a Cristo. Mas poucos de nós realmente entendem a graça comum, que é o meio através do qual o poder de Deus sustenta a criação, retendo o pecado e o mal que resulta da Queda e que, de outra forma, dominaria sua criação como uma grande enchente. Como agentes da graça comum de Deus, somos chamados a ajudar a manter e renovar sua criação, a sustentar as instituições formadas da família e da sociedade, a buscar a ciência e a sabedoria, a criar obras de arte e beleza e a curar e ajudar aqueles que sofrem com os resultados da Queda. (pg.13) Convido a todos que fizerem a leitura deste artigo a avaliarmos o que de fato temos feito para a propagação do Reino de Deus para a sociedade, a vivermos mais o evangelho e “pregar” menos, a influenciar o meio em que vivemos com demonstração de piedade, em vez de tirar, acrescentar; em vez de julgar, perdoar; em vez de criticar, fazer melhor. Caso contrário é melhor que se fechem as portas dos templos e voltemos ao primeiro século.
Li seu artigo e achei interessante! Me fez pensar nas pessoas que por serem deficientes físicas ou mentais e que não congregam, mas compreendem e aceitam a fé em Cristo e até aceitaram a Jesus!
ResponderExcluirComo será que elas são vistas pelas pessoas que saúde normal e congregam? E os tais pastores que ficam em tempo integral e que não dão assistência para estes "cristãos deficientes" que não congregam?
Quer dizer então que estas pessoas não são igreja ou não fazem parte dela?
Deus continue te usando dessa forma!