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sábado, 7 de abril de 2012

AINDA HÁ HUMANIDADE NA PÓS-MODERNIDADE?



Imagem extraída do Google Image
Prof. José Andrade Nogueira
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Percebo estar cada vez mais difícil me adaptar à pós-modernidade. Uma época de pessoas frias e distantes que aparentemente se importam menos com o outro. Não é surpresa para psicólogos, psicoterapeutas e psicanalistas que um ser humano normal esteja sempre à procura da satisfação do desejo, mas não é sadio viver tão friamente e cada vez mais desligado do outro. Estamos num tempo que a expressão “dane-se”, se tornou mais do que uma palavra feia, se tornou uma ideologia. As pessoas estão se tornando cada vez mais individualistas e egoístas.

Nunca foi tão difícil entender como alguém pode ser tão importante e significar tanto para nós em virtude de nossa necessidade pela presença humana como companhia; mas, por outro lado, nunca foi tão fácil rejeitar alguém. Nunca se viu tanta indiferença coletiva, cujo resultado é gente doente e perdida na procura de uma satisfação fútil do desejo, entendido aqui como a necessidade de viver por si só, de ter identidade própria e ao mesmo tempo ter algum prazer que preencha o vazio da ausência do outro. E nessa procura desenfreada o ser humano que tenta ultrapassar os limites ético-bíblicos se destrói! Como seria horrível o homem sem limites! Já pensou nisso algum dia?

Alguns pensadores afirmam que a Lei de Moisés no Antigo Testamento foi uma manifestação do amor de Deus ao homem porque a vida sem lei seria o próprio caos. Para a Psicologia moderna, cada ser humano é um “assassino” em potencial, isso porque cada um carrega dentro de si a força das pulsões da energia que conduz a vida, que potencialmente guia as pessoas à procura de outro objeto do seu desejo que é um sentido para a sua existência. Mas, não sejamos pessimistas em nossa visão do ser humano! Para a Teologia o ser humano é imagem e semelhança de Deus e por isso é um ser relacional que tem a consequente necessidade de aceitação social. Assim, tomando emprestada a visão da psicologia moderna sobre a força das pulsões que conduzem a vida, e a visão da Teologia sobre o homem ter necessidade de ser socialmente aceito, podemos dizer que a base de todo relacionamento humano é a busca por sentir-se vivo no prazer da amizade e companhia do outro.

Funciona mais ou menos assim: por sermos relacionais, buscamos por algo que não está em nós e que é responsável por nos proporcionar prazer. Isso nos motiva a movimentar em direção ao outro pela busca da satisfação de nosso desejo. Exemplo: dentro da nossa procura pelo elogio, quando alguém nos enaltece, tal atitude, está em sintonia com o nosso desejo de reconhecimento e por isso temos prazer neste alguém; mas se esta mesma pessoa fala alguma verdade sobre nós que não esteja em sintonia com nosso desejo, logo nos ofendemos sem ao menos pensar no assunto e nem queremos saber se existem reais motivos para tais observações. Isto é bastante comum!

Mas, na pós-modernidade, esta estrutura de companheirismo parece estar sendo confrontada pelo individualismo materialista. Nunca foi tão importante para as pessoas se afirmarem tanto, gritar, serem fortes e dizer que não dependem de ninguém. Do ponto de vista psicanalítico, esse grito e essa exposição geram alívio, uma espécie de compensação por uma deficiência ou pela busca por algo que lhe foi arrancado quando criança. Do ponto de vista teológico este grito é uma tentativa de autonomia humana que faz com que o ser humano seja cada vez mais independente e distante de Deus. A consequência disso é que toma atitudes “cibernéticas, robotizadas e frias”, como por exemplo: excluir de vez dos sites de relacionamento aquelas pessoas “chatas” que dizem a verdade sobre a gente o tempo todo. Esse tipo de atitude é insuportável, então, a mentira se torna conveniente neste caso, desde que, mentir nos faça sentirmos bem. Outro exemplo se dá quando percebemos inúmeras pessoas postando em sites de relacionamentos frases do tipo: “Mais vale a dor de uma palavra sincera que um monte de mentiras.” Filosófico, mas não verdadeiro. Estão cheias de arte, literatura e muita poesia e até muitas vezes repleta de expressões supostamente bíblicas.

Como posso apreciar a verdade se a mentira satisfaz o “ego” e é mais importante e conveniente pra cada um de nós? Faço aqui então um desafio: atreva-se expor sua opinião apenas uma única vez. Comente um texto, um pensamento, ou uma imagem postada com mais verdade. Se aventure ir contra o pensamento de quem posta alguma coisa que acredita ser algo importante. Tente dizer que não concorda, seja antagônico. O resultado? Lamento dizer isso, mas você será friamente expurgado e rejeitado por contradizer e expressar apenas o seu pensamento sobre alguma coisa que acredita não estar certo.  Já dizia Soriano: “Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa!”

Nunca se ouviu tanta mentira para manter relacionamentos virtuais vivos e não correr o risco de ser apagado, excluído ou deletado. Nunca se teve notícia de um cristianismo tão enfermo, nem tampouco se viu tantas pessoas apaticas umas com as outras falando de koinonia, comunhão e de amor como se estivessem comendo no dia da Ceia um pedaço de pão e se embriagando com um cálice de vinho que desce seco na garganta. E como podemos entender melhor o que está acontecendo com a nossa sociedade e quais os riscos que cada um de nós pode correr se priorizarmos sempre a nossa vontade sem pensar no outro?

Basta observarmos o estado mental de qualquer pessoa. Do ponto de vista psicanalítico dizemos que, diante de tanta frustação e angústia por tentar sobreviver num mundo cada vez mais frio, é comum qualquer pessoa buscar pelo retorno ao “Nirvana”, a realização do desejo e do descanso.

Pessoas comuns mal sabem que com toda essa angústia em buscar a autossatisfação elas estão se matando e cavando a própria sepultura. O que é a morte senão um descanso e o que é a loucura senão desprezar o insuportável e o intolerável? Nirvana é o nome que usamos para explicar o estado embrionário em que todo ser humano não precisa se preocupar porque recebe o cuidado e o carinho direto da mãe. Um ser humano sem limitações poderá se perder desejando descanso por estar aparentemente esgotado em busca de tantos objetos diferentes para a satisfação dos seus desejos, ou poderá desenvolver um sentimento de repulsa e descontentamento com o mundo.

Uma pessoa que ainda não aprendeu a fazer uma leitura da vida de que nem tudo que se deseja é possível de se obter e que, a realidade pode ser tão dura a ponto de apresentar uma nova versão de quem de fato nós somos, poderá assim não admitir e nem tampouco aceitar o que a vida impõe. Consequentemente irá se enveredar entre dois caminhos: refugiar na loucura ou se entregar para a morte. De maneira inconsciente poderá se tornar louca a fim de fugir da realidade e se libertar dos traumas ou simplesmente desistir de lutar pela vida acreditando que a morte lhe propiciara descanso.

Voltemos a Lei Mosaica e a expressão do amor de Deus: do ponto de vista teológico percebemos na Bíblia um sistema de leis estabelecidas por Deus e repassadas aos homens para que estes vivam sujeitos a estas mesmas Leis. Um sistema de governo que desaceleraria o ritmo do homem na busca inconsequente pela realização do desejo.

Deus prorroga a vida e faz possível a convivência através do respeito, do amor e da consciência do outro. Porque é tão difícil assim entender que a lei é boa? Não foi assim dito anteriormente por Paulo ao jovem Timóteo? “A lei é boa!” Porque insistir tanto em burlar as regras e não tentar simplesmente confiar em Deus? Onde está a fé afinal de contas? Ela só serve para conquistar, nos motivar a nos movermos a favor do desejo? Comprar o carro, conquistar o diploma de formação acadêmica ou arranjar um bom emprego? Uma fé responsável a ser ou ter um excelente marido ou uma boa mãe dos nossos filhos? Serve para comprar a casa e para ganhar o dinheiro que vai valer para fazer a viagem dos nossos sonhos e para almoçar em restaurantes chiques? É para isso que a fé tem serventia? Pra fazer mover em torno do desejo?

Onde está a fé que leva o homem a confiar em Deus apesar das circunstâncias e que nos faz compreender afinal de contas que se Deus nos livrar ou não Ele sabe exatamente o que está fazendo? Se a Bíblia é a nossa regra de fé e prática, porque questionar tanto a Deus pelo carro que Ele não deu, pelo casamento que não deu certo ou pela faculdade que não pudemos terminar? Nos textos do Antigo Testamento é possível perceber a existência de inúmeras regras que foram estabelecidas para serem seguidas por meio da fé e não para serem questionadas.

É intrigante perceber que a fé do povo hebreu era suficiente para mantê-los vivos em uma época em que não existiam os recursos tecnológicos e os conhecimentos que supostamente mantém a sobrevivência hoje. Bastava confiar em Deus e nas leis por Ele estabelecidas e isso era o suficiente. A fé é demonstrada principalmente quando não temos a capacidade de entender os porquês, mas mesmo assim procuramos confiar em Deus e na sua orientação bíblica.

Não restam dúvidas que toda aquela exigência cerimonial escondia por de trás o amor incontestável e inexplicável de Deus ao povo hebreu. Um amor capaz de desenvolver regras que pudessem salvar vidas. Todas as regras contra a imundícia foram estabelecidas provavelmente porque Deus estava poupando o povo hebreu das contaminações possíveis com a carne morta dos animais ou de algum ser humano. Isso só nos leva a concluir mais uma vez que á fé é mais que um subterfúgio para obtermos alguma coisa que queremos ter, mas principalmente responsável por nos dar condições o suficiente de obedecermos e permanecermos vivos.

Diante de tantos porquês que questionamos é preciso repensar, em quem estamos firmados e em que estamos lançando bases sobre os nossos pés? Estamos fundamentados nas palavras deixadas por Cristo ou temos firmado os nossos pés em reflexões pseudofilosóficas que fazem menções contraditórias com a Bíblia Sagrada como o caso das famosas “frases bonitinhas postadas no Facebook” e nos demais sites de relacionamentos?

A mim, incomoda muito o número cada vez maior de pessoas frias e emocionalmente cadavéricas, sem respeito ao sentimento de outrém. Outras por sua vez, sonham com uma boa amizade, mas são simplesmente bloqueadas, excluídas e rejeitadas por terem dito a verdade. Acredito que doa muito perceber que foi excluído num site de relacionamentos por alguém que simplesmente amamos. Mais creio doer ainda mais quando depois de algum tempo essa pessoa aparece e pede ajuda, pede que a escute e que possa ouvi-la falar dos seus problemas. Daí você se compadece, mas inevitavelmente em alguns casos se sente usado, e depois descartado como um lixo. Isso é desumano e nada cristão.

A Palavra de Deus nos impacta naquilo que o nosso caráter é falho e as declarações de Jesus não são nada agradáveis ao nosso “eu” mais profundo. Voltemos a alguns trechos das palavras de Jesus Cristo e vejamos se Ele estava preocupado em mentir a fim de promover bem estar em nossas vidas para consequentemente amá-lo e querer estar perto dele ou se disse palavras de confronto que custou o afastamento de inúmeras pessoas, a repulsa e indignação de alguns e que lhe custou principalmente a vida levando-o a ser humilhado:

“Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando.” “Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto vos escandaliza? Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.”

A Palavra de Deus nos ensina a falar a verdade uns aos outros, mas a verdade é forte demais para ser ouvida, ela entra em choque diretamente com o narcisismo existencial de qualquer pessoa que viva nesse mundo. Para concluirmos a nossa conversa, resgatando esta idéia dos malefícios que a individualidade e o egoísmo nos trazem deixo estas perguntas: Por que amamos tanto Jesus afinal de contas? Seria porque precisamos dEle? Seria porque Ele pode resolver os nossos conflitos? É isso? Seria porque Ele pode nos salvar, isto é, nos dar o céu? E se Ele fosse limitado como um de nós o é? O apagaríamos quando tivéssemos conquistado a glória celestial? Sim? Não? Como costuma dizer Josemar Bessa:

"O mundo não mudou, muitas pessoas no mundo dizem gostar de Jesus porque elas não entenderam o que Ele disse. Explique a elas em dez minutos o que Ele disse e elas não gostam mais! Elas gostam de um Jesus que elas inventaram!"

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