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Prof. Leonardo Miranda
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Nesta semana que se passou, tirei um momento para ler a Bíblia, e antes mesmo de começar a ler me indaguei sobre minha própria interpretação do texto bíblico que venho fazendo ao longo dos anos. Foi quando percebi que, na verdade, eu não mantive um padrão de interpretação: o que ocorreu foi que, por influências das diversas denominações onde congreguei e de pessoas que fizeram parte de meu círculo de amizades ao longo de 17 anos como seguidor do Evangelho, eu interpretei a Escritura usando desde o literalismo radical (ex. Deus criou o mundo em 7 dias de 24 horas) até o misticismo radical com alegorias intermináveis (ex. as Igrejas mencionadas no apocalipse nunca existiram historicamente, antes, são ilustrações de alguma fase que nós enfrentamos em nossa vida espiritual). Enfim, pelos exemplos já deve ter dado para perceber o quanto minhas interpretações passadas só revelam o nível de imaturidade espiritual em que me encontrava.
E no prosseguimento de minha reflexão comecei a ler o texto no Evangelho de Mateus, mas confesso que mantive a mente totalmente voltada para minha sincera e vergonhosa descoberta. Então comecei a me perguntar que tipo de interpretação eu faço hoje em meus momentos particulares com Deus e cheguei a uma conclusão que acredito poder compartilhar e até generalizar como resposta, senão para todos os cristãos, ao menos uma grande maioria: tendo em vista que parte de nossas interpretações é fruto das influências das denominações onde congregamos e das pessoas que nos discipulam, me dei conta de que ou interpretamos o texto bíblico, mais especificamente o do Novo Testamento, como se nós fôssemos os pecadores judeus e gentios que receberam a mensagem inicial do Evangelho e dos apóstolos, ou a interpretamos como se fôssemos uma igreja imaculada que anuncia uma mensagem para os pecadores afastados de Deus que ainda não entregaram suas vidas a Cristo. De qualquer maneira, seja no culto doméstico, seja no templo ou em qualquer lugar que se professe o cristianismo, nossa mensagem é extremamente moralizadora no mal sentido do termo.
Daí conclui que precisamos de uma hermenêutica genuinamente latino-americana. Hoje, a consciência teológica me dá condições e, naturalmente, me conduz a procurar compreender o contexto em que o texto bíblico foi produzido, as razões que levaram o autor a escrever aquele determinado trecho, aquela narrativa, ou aquele salmo, ou aquela mensagem profética, ou aquela epístola e assim por diante. Também me preocupo em tentar aplicar os ensinos de Jesus em minha vida e como adequar o Evangelho do Reino ao século XXI, mantendo a integridade da verdade bíblica. O problema de se escrever sobre nós mesmos é que corremos o risco de sermos mal interpretados e algum leitor pensar que estou esnobando; mas não! Não é de minha capacidade que trato neste artigo. Antes, o que proponho é que se o literalismo radical não dá conta de nos responder, se o misticismo alegórico radical igualmente não dá conta de responder, então precisamos buscar pelo equilíbrio hermenêutico na interpretação da Bíblia. Para isso faço alguns apontamentos que considero relevantes para a nossa reflexão:
1) Uma das regras clássicas da Hermenêutica é que eu nunca posso afirmar que um texto significa aquilo não foi a intenção original do autor: Portanto, o intérprete bíblico deve tomar cuidado com as alegorias e ilustrações e metáforas do tipo: “mar significa os povos”, “Egito significa o mundo”, “a rocha de Meribá é um tipo de Cristo”, etc. Cuidado! Se o texto não significa isto, então não force e não tente encaixar o texto estudado em significados que nunca existiram. Eu até entendo que a tipologia foi desenvolvida na tentativa de enquadrar Cristo nos textos do Antigo Testamento, mas antes disso, Fílon e Orígenes de Alexandria já haviam tentado isto no início do Cristianismo e não foram muito bem sucedidos. Seu legado foi a promoção de uma igreja dividida por séculos por causa desse tipo de interpretação. Igualmente cuidado com as intepretações totalmente literais, afinal, ninguém nunca arrancou seu próprio olho e nem sua mão por pecar contra Deus, mas Cristo ensinou que se nosso olho nos faz pecar que o arranquemos!
2) Não precisamos de uma hermenêutica alientante: Hermenêutica alienante é aquela interpretação da Bíblia em que a pessoa entende que para agradar a Deus ela deve se isolar de tudo e de todos, incluindo os valores sociais e a própria sociedade. Um exemplo interessante disso está na clara distorção do texto da epístola de Tiago, em que “a amizade com o mundo constitui-se em inimizade contra Deus”. Normalmente a Igreja evangélica brasileira, e por que não dizer latina, ensina, a partir deste texto, que ser cristão significa um isolamento completo, uma vida totalmente alienada da cultura, das benesses da vida criada por Deus, da bênção que é o planeta e tudo o que ele possui e até dos problemas de ordem política, econômica, educacional, artística, esportiva, enfim, social. Este tipo de interpretação mantém mentes cativas a uma vida alienada e contraditória porque as pessoas precisam sair para trabalhar, estudar, ter lazer e fora do mundo nada disto é possível. O estudo bíblico coerente individual ou coletivo revela que tudo o que Deus criou é bom (Gênesis 1:31 / 1ª Timóteo 4:4). Também aprendemos no Evangelho (Jo 17:15-19) que a mensagem de Jesus trabalha o nosso caráter de forma tal que não adotamos mais a mentalidade pecaminosa desta sociedade, mas o próprio Cristo não quer que sejamos tirados deste meio, antes nos envia para anunciarmos as boas novas do Evangelho e ainda santifica a si mesmo para que sejamos santificados nele. Isto nos conduz, então, para a necessidade de uma hermenêutica latino-americana.
3) Precisamos de uma hermenêutica latino-americana: Ora, se em todas as gerações a Bíblia é a Palavra de Deus que orienta sobre a sua revelação especial para a humanidade, então, sua interpretação deve ir ao encontro do contexto e do tempo em que vivem as pessoas a serem alcançadas pelo Evangelho. Isto significa que para a vida latina, em sua integralidade (corpo, alma e espírito) e todas as benesses e dificuldades (na cultura de modo geral), a mensagem do Reino de Deus ensinada por Jesus deve chegar de modo completo, dinâmico (buscando mudar a realidade das pessoas) e ativo (ensinando as pessoas alcançadas pela graça de Deus a fazerem pelas outras o que fizeram inicialmente por elas).
Sim! Volto a enfatizar: precisamos de uma hermenêutica latino-americana! Precisamos de uma intepretação que condiga com o sofrimento da vida latina decorrente da injustiça social. Precisamos de uma interpretação que vá ao encontro dos anseios do pobre latino, que trabalhe sua auto-estima e ao mesmo tempo denuncie toda a forma de pecado que se manifesta em qualquer forma de corrupção independente de quais setores sociais (se públicos ou privados). Precisamos de uma interpretação que motive a Igreja a sair de sua zona de conforto (casa ou templo) de modo a conduzi-la a ação social como atitude comprovadora da verdade do Evangelho e que a faça parar com o discurso moralizador que exige mudanças estéticas do recém-convertido em nome de uma pseudo-santificação. Precisamos de uma interpretação que elimine as consequentes mazelas de quem cai no conto da Teologia da Prosperidade.
Enfim, precisamos de uma hermenêutica latino-americana que nos dê a liberdade de uma interpretação coerente da Bíblia. Que não retire nossa humanidade, nossa incompletude e que aceite nossa identidade miscelânica; que nos dê a tranquilidade de cultuarmos a Deus com a pluralidade da cultura e do cristianismo latino-americano como ele realmente é: um povo misto de várias raças que luta para sobreviver, mas espera em seu Deus pela manifestação plena de seu Reino!
Este é o resultado de minha reflexão! Avancemos... Por uma hermenêutica latino-americana!
Pense nisto!
SEU ARTIGO ME FAZ RELEMBRAR DE UMA PERGUNTA QUE EU FIZ HÁ UM TEMPO ATRAZ: ATÉ ONDE PODE UM PREGADOR AFIRMAR QUE ELE TEM UMA PALAVRA "DE DEUS" PARA ANUNCIAR A IGREJA, POIS ASSIM ME PERGUNTO, SE TLA PREGAÇÃO NÃO É NA VERDADE MERA INTERPRETAÇÃO DO PREGADOR, E POR FAZER O MESMO O USO DA BÍBLIA, FICA MAIS FÁCIL E CONVINCENTE ATRIBUIR AQUELA MENSAGEM COMO UM REVELAÇAO DE DEUS, POIS ASSIM EVITA-SE POSSIVEIS QUESTIONAMENTOS. NAO QUE EU DESACREDITO NA ILUMINAÇAO DO ESPIRITO, MAS PENSO QUE MESMO ASSIM, ESTA ILUMINAÇAO É VITIMA DE NOSSAS INTERPRETAÇOES, COMO POR EXEMPLO, O TEXTO DE JOSUÉ QUE DISSE QUE O SOL PAROU PARA JOSUÉ PELEJAR, HOJE COM A TECNOLOGIA QUE TEMOS, SABEMOS QUE O SOL NÃO PAROU, E AI? A BÍBLIA ERROU, OU JOSUÉ PELA PERSEPÇAO QUE TINHA DO MUNDO PENSOU QUE O SOL É QUE PAROU, E DEUS NAO SE PREOCUPOU EM ADVERTI-LO QUE SUA OBSERVAÇAO ESTAVA ERRADA. EM FIM, ENTÃO VEJO QUE DE FATO MUITOS PREGADORES TEM FALHADO NAS SUAS AFIRMAÇÕES EM DIZER QUE "DEUS ME REVELOU" UMA PALAVRA PARA ESTA NOITE, QUANDO NA VERDADE O HOMEM POR UMA ILUMINAÇÃO DO ESPÍRITO, CONSEGUE PERCEBER O QUE ESTÁ EM SUA VOLTA LIMITADO POR SUA REALIDADE. QUE DEUS PERDOE-NOS PELA NOSSA PECAMINOSIDADE HERMENEUTICA.
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