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Prof. Leonardo Miranda
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“A consciência da morte tem o poder de libertar [...]. [...] livres para morrer, os homens estariam livres para viver”. (ALVES, Rubem. O que é Religião)
Sem querer entrar em detalhes filosóficos ou teológicos, há basicamente duas interpretações sobre a existência: a primeira afirma que após a morte todo ser retorna à inexistência e acabou! Nunca mais existiremos; a segunda afirma que a morte é apenas uma passagem e a existência em si é eterna. Então, compactuando desta segunda interpretação, pondero sobre o paradoxo contido na existência eterna.
Não é interessante quando observamos o desabrochar de uma flor? Quando presenciamos o nascimento de um pássaro ou quando descobrimos que alguns insetos possuem apenas 24 horas de vida e outros não mais que algumas semanas ou meses? E quando assistimos a ultra-sons e acompanhamos uma gravidez por todos os nove meses? Isto causa em nós uma sensação de renovo, de vida, de existência!
Francis Schaeffer em seu livro O Deus que se revela cita o teólogo e filósofo Sören Kierkegaard em sua observação de que “o problema não está naquilo que não existe, e sim, naquilo que existe”. Com esta menção Schaeffer discorre sobre a grande pergunta que habita no coração humano que é de onde vêm todas as coisas e ainda comprova que o espanto diante da existência é um fenômeno impregnado em toda a humanidade independente do tempo e do lugar.
Apropriando-me, ainda, de outro autor, Jostein Gaarder escreve em seu livro O Mundo de Sofia que precisamos ter a capacidade de nos admirarmos com as coisas. Afinal, é esta admiração, este espanto, esta perplexidade que nos impulsiona a um envolvimento profundo e respeitoso com a realidade existente e tudo o que nela há! É por meio da admiração que nos perguntamos sobre a origem e o sentido da vida; é por meio de nos espantarmos com tudo o que existe é que nos perguntamos como os seres funcionam harmonicamente; é por meio da perplexidade que nos curvamos reverentemente à vida, à existência e ao Autor da vida! Enfim, é diante da existência e por meio desta sensibilidade que somos tomados por um estado de quem se encontra como que transportado para fora de si e do mundo sensível, por efeito de exaltação mística ou de sentimentos muito intensos de alegria, prazer, admiração e temor reverente! Ficamos em êxtase!
E assim, nalgum momento de nossa história, após experimentarmos a magnificência da realidade e sermos impactados com a glória da nossa própria existência e dos demais seres e entes como reflexo dos atos criativos de Deus, de repente nossos olhos são abertos, como se escamas caíssem ou como se o efeito “narcotizante” passasse e aí nos deparamos com o horror da morte! Como se em fração de segundos passássemos de um lindo sonho a um horripilante pesadelo daqueles que nos dão a impressão de que nunca acordaremos! E, como consequência, nos damos conta da transitoriedade ou efemeridade da vida!
A vida em si é bela! É um presente de Deus para nós! Todavia a morte nos ceifa esta dádiva; ela é o inimigo mais cruel que qualquer pessoa pode enfrentar já sabedora de que vai perder a batalha. Parafraseando Kelly James Clark em seu livro Quando a Fé não é suficiente: no enterro de duas pessoas, não haverá nenhuma distinção entre o pó de um leigo e o pó de um pároco! E pela certeza deste fenômeno, todo ser humano, depois deste encontro com a consciência de sua própria finitude, também se pergunta: como posso viver a vida de modo digno, sábio, certo de que não estou desperdiçando tempo, de que estou gozando das benesses da existência corretamente?
Para os que em nada crêem é desesperador, para nós que cremos não é menos impactante! Ninguém quer morrer, ninguém quer ter seu nome lançado no suposto esquecimento! Então, na luta por responder esta pergunta, como se já não bastasse a tentativa de igualmente respondermos outras questões cruciais como a origem de todas as coisas e sobre o sentido da vida além de como experimentá-la da melhor maneira possível, ainda nos deparamos com a divisão das opiniões, como se estivéssemos sozinhos, sem referência, sem alguém para nos orientar sobre a melhor maneira de viver.
Há muitas pessoas que diante da lucidez sobre a efemeridade da vida se tornam completamente pessimistas procurando viver em sua subjetividade visando apenas a busca do prazer temporário; já outros, consideram que as crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há qualquer sentido ou utilidade na existência. E há um terceiro grupo, mais heterogêneo, o dos religiosos, que para não caírem no desespero buscam nas mais variadas formas de religião institucionalizada as respostas que confortem ou ao menos camuflem suas angústias.
Todavia nem o caminho dos pessimistas e nem o caminho dos religiosos os livrará da finitude do fôlego de vida! Então o que fazer? Ante as múltiplas respostas, não me coloco como o responsável por dar conta de responder completamente todas as dúvidas existenciais, mas como alguém que sinceramente pondera também sobre esta temporalidade. Proponho, então, duas sugestões: compreender o que significa viver para a glória de Deus e refletir sobre o equilíbrio entre a consciência e o desejo.
Quando compreendo a Bíblia, que não é um simples livro, mas é a revelação de Deus para nós, consigo entender o problema do paradoxo da efemeridade da vida contido na existência eterna. Aprendo que a morte existe em consequência do pecado do ser humano, mas Deus não nos criou para a morte. Assim sendo, sua história não é fictícia, e muito menos reduz Jesus a um ser humano que por capacidades ético-religiosas foi homenageado depois de morto sendo elevado à condição de ser divino. Não! Antes, Jesus é o Deus encarnado que vive, morre e ressuscita para resgatar a imagem e semelhança de Deus no homem e resgatá-lo do poder da morte. Por sua ressurreição o paradoxo da efemeridade da vida é anulado; mesmo que morramos, temos a promessa da nossa ressurreição para a vida eterna, que é a continuidade da existência. Essa obra de Jesus é chamada de redenção e não foi feita porque merecemos, mas sim pela graça de Deus, pelo seu favor que nós não merecemos!
A consequência de tal compreensão me leva à reflexão sobre a importância do equilíbrio entre a consciência e o desejo. Imagine se descobríssemos que temos apenas mais seis meses de vida ou que precisamos de um transplante de algum órgão vital ou em breve morreremos. Além do susto, do medo súbito que provocará uma reação descontrolada inicialmente, certamente que toda a nossa agenda seria modificada. Tudo o que consideramos de mais precioso passaria por uma revisão, todos os sacrifícios perderiam seu valor e certamente trocaríamos nossa rotina, por só mais um pouco de vida!
Veríamos que o presente dado por Deus, a vida, possui exuberância, fartura, profusão, riqueza, entusiasmo, vivacidade, imponência pela sua grandiosidade, pelo seu esplendor e beleza. Estar consciente da existência nos conduz a apreciar cada momento poeticamente e a abandonar o que não vale a pena no gasto de energia vital como ressentimentos, rancores e vingança. E estas informações já estão contidas no Evangelho ensinado por Jesus!
Não somos perfeitos por causa do pecado que habita em nós, mas também não somos completos porque Deus assim nos fez! A própria pedagogia afirma que somos seres inacabados, em constante construção, em constante condição de interagirmos com a realidade e dela aprendermos cada vez mais sobre si e sobre nós.
E é por causa desta imperfeição existente em nós, decorrente do pecado, é que particularmente não acredito que ninguém consiga o tempo todo viver de modo equilibrado entre a consciência da vida, da existência, dos deveres e direitos e o desejo que conduz ao prazer, mas, por outro lado, tal condição nos leva a confiar na obra redentora de Jesus.
E então? O que fazer? Aí está, no âmago desta consciência sobre a obra de Jesus, o valor devido à vida! Vivemos porque Deus nos deu vida, e aprendemos dia a dia como viver bem, com qualidade, com bom proveito, quando procuramos viver para a glória de Deus, pois somente com a sua auto-revelação encontrada na Bíblia é que temos os parâmetros para percebermos e interpretarmos a realidade com coerência e, igualmente por meio do conhecimento, da vivência e da experimentação do conteúdo bíblico é que compreendo que, mesmo sabendo que eu deveria viver de modo equilibrado entre a consciência e o desejo e nem sempre ou quase nunca conseguindo, sou grato a Jesus por me alcançar com sua graça, me dar vida eterna e por me perdoar por minhas falhas, meus erros, meu pecados e me permitir aprender com meus próprios erros!
Esta vida é efêmera? Sim! Mas a existência é eterna! Se Cristo não voltar antes morreremos algum dia? Sim! E tudo isto é um grande paradoxo? Talvez! Parece uma loucura? Sim! Mas se a morte existe, foi por ter sido pronunciada como sentença da parte de Deus como consequência do pecado de Adão e Eva. Mas, mesmo ninguém sabendo quando chegará a sua vez, temos uma resposta sobre a melhor maneira de vivermos? Do ponto de vista filosófico não, mas do ponto de vista teológico já refletimos em duas sugestões: viva a cada dia para a glória de Deus, de modo que sua crença, seu pensar e seu comportamento o glorifiquem! No mais, se você entender que não dá conta, ao menos se conscientize que uma das formas de viver bem, é viver de modo equilibrado entre a consciência e o desejo. Será isto possível?
Pense nisto!
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