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Prof. Leonardo Miranda
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“Teologia
Latino Americana”, esta é, com certeza, uma nomenclatura nova! Era algo
inexistente a bem poucas décadas atrás. Formada essencialmente pela Teologia da
Libertação e pela Teologia da Missão Integral se mostra diferenciada das
teologias clássicas exatamente por ser muito parecida com o próprio
latino-americano. O latino possui um estilo de vida que demanda flexibilidade e
adaptação se ele quiser sobreviver. Assim é sua teologia.
Vivemos
um momento incrivelmente transformador e peculiar. No Brasil na política já
temos a primeira mulher a ser presidente da República, na economia sobrevivemos
a uma crise em nível mundial, na religião assistimos dia a dia a proclamação do
diálogo inter-religioso, no esporte o Brasil sediará a Copa do Mundo e nas
demais questões sociais a principal é a tentativa de independência moral da
homossexualidade. No que se referem aos demais países temos um Haiti ainda em
ruínas, uma Cuba que se abre ao capitalismo, uma Venezuela com ditadura em
pleno século XXI, uma Argentina com Economia recessiva, etc.
Como
se já não bastasse o cristianismo na América Latina a cada dia toma novas
formas: algumas bíblicas, algumas heréticas. E de vermos todo este dinamismo
lançamos uma pergunta: como se relacionar com Deus e servi-lo numa América
Latina tão fluida em seus conceitos e em sua adaptabilidade para sobreviver na
globalização e ao mesmo tempo tão mais sólida pela maturidade adquirida de
todos estes anos de opressão?
Desse
contexto fala-se na Teologia Latino Americana como um produto reflexivo,
extraído não apenas do conteúdo bíblico, mas das próprias demandas da vida
latina. Se Filosofia e História caminham lado a lado com a Teologia na
tentativa de elaborar respostas, em se tratando da teologia latina, a presença
e participação destes três pilares parece se acentuar ainda mais com o apoio
também das leituras políticas e econômicas. Na América Latina, nenhuma teologia
sobrevive se não contar com estas leituras.
E se
considerarmos que seu nascimento ocorre no século XX e que já causa impacto em
nível internacional certamente é algo que veio para ficar. Não conseguiremos
mais nos livrar dela. Graças a Deus por isso! Mas quais as suas características?
Possui identidade plural
Assim
como o continente que lhe dá o nome possui uma identidade plural, este sistema
teológico também. Observe: ao olharmos para a história da América Latina com a
presença dos nativos, dos vários colonizadores, dos escravos estrangeiros e de
outros povos que tiveram curtas passagens por aqui nos tempos dos “descobrimentos”
e observarmos todas as heranças culturais aqui deixadas, certo é que
afirmaremos sem exitar que não podemos falar em uma cultura, um costume, até
mesmo uma América Latina. Talvez a descrição que melhor se encaixe seja “Américas
Latinas” dentro da enorme junção dos continentes Central e Sul. E assim é com a
Teologia Latino Americana.
A
própria pluralidade dentro do cristianismo latino - protestantes históricos,
pentecostais históricos, neopentecostais, igrejas emergentes, métodos e mais
métodos de evangelização e as mais variadas propostas teológicas, algumas
amplamente conhecidas e outras localmente conhecidas - faz com que, por
obrigatoriedade, a Teologia Latino Americana seja plural.
Obviamente
que ainda não é possível falar em um sistema pronto, definido, portador,
inclusive, de um compêndio de teologia sistemática latina, justamente por sua
pluralidade e por ser ainda tão nova. E para muitos teólogos latinos é até
melhor que seja assim mesmo, mais livre, menos engessado. Contudo, o grande diferencial
desta teologia é que ela está muito mais focada nas demandas políticas,
sociais, econômicas, educacionais e todas as demais instâncias da vida humana
no nosso contexto.
E para
que possa se focar neste diferencial tenta, aos poucos, amadurecer em termos de
crenças, de conceitos e práticas. Note: por costume, ainda usamos as teologias
sistemáticas importadas da Europa e dos Estados Unidos. Nossa cultura
evangelical, mesmo multifacetada, carrega em grande parte a essência de valores
e comportamentos dos ensinos das missões norte americanas e algum resquício das
missões européias. Estes primeiros ensinamentos em si não são ruins; ao
contrário, são importantes para nos reconhecermos, sabermos quem somos e qual o
meio que Deus utilizou para que o Evangelho chegasse a nós. Contudo, é hora de
amadurecer e criarmos a nossa própria teologia, a que tem mais a ver conosco, a
que nos identifica como cristãos e ao mesmo tempo como latinos, que não tira de
nós a nossa humanidade, a que revela a flexibilidade do Evangelho no alcance
das culturas, incluindo a nossa.
Almejarmos
por termos a nossa própria teologia não significa que jogamos fora todo o
arcabouço teológico dos primeiros ensinamentos, mas, sim, que reconhecemos que
eles já não dão mais conta de responder aos nossos anseios. Imagine uma pessoa
que na primeira infância vive sob a tutela dos pais e se dá por satisfeita com
as singelas respostas, mas o tempo passa e chega a adolescência e a juventude e
esta pessoa sente, naturalmente, pelo próprio processo de maturidade, a
necessidade de viver sua própria vida. Assim se manifestou entre os cristãos
latinos: precisamos e queremos viver a nossa própria teologia!
E
nesta busca por uma identidade, ou várias identidades ou uma identidade plural,
a Teologia Latino Americana busca ser contextualizada, voltada para o ambiente
sócio-histórico e cultural específico. Como reflexão pensada a partir da fé,
focada numa determinada realidade da vida latina, a Teologia Latino Americana é
também universal no sentido de que, ao pensar a fé e a prática, pensa em como
ordenar a vida já neste mundo, sem, contudo, descartar o porvir, mas
enfatizando o aqui e agora. Tanto é que seu método investigativo não é a
especulação filosófica e nem a especulação apocalíptica. Pelo contrário, é o
método hermenêutico, pois se preocupa em como interpretar esta realidade no que
tange a qual a melhor forma de se viver o Evangelho e anunciar o Reino
envolvendo-se em todas as instâncias da vida latina.
Está em construção
Eis o grande desafio! Como já se sabe
a Teologia Latino Americana não passa de uma jovem forma de crer e pensar,
entretanto não denigre os princípios bíblicos e nem as tradições cristãs, mas
reivindica que a América Latina seja vista com respeito e consideração. Que
seus cristãos sejam também vistos como herdeiros de uma liberdade de viver e
pensar a palavra de Deus conforme sua própria cultura, daí a luta para tentar
se construir.
Se por um lado a igreja latina padece
por não possuir seu próprio compêndio de teologia sistemática, por outro lado
se beneficia da pluralidade teológica interna que possui e convida a todos os
ministros e leigos, teólogos ou não, que estejam dispostos a pensar a vida
cristã latina de modo coerente com a liberdade dada por Deus para a criação,
re-criação e vivência da própria cultura.
O que não falta é terreno,
oportunidade. A América Latina pode ser considerada um bojo efervescente de beleza
incomparável, mas ao mesmo tempo com problemas político-econômico-sociais que
afetam todas as demais áreas e problemas religiosos que também não ficam atrás.
Talvez nunca seja possível a junção de
todas as reflexões teológicas elaboradas na tentativa de responder a “ausência”
de Deus nos milhares de lares latinos, todavia é certo que há espaço para todos
os que desejam contribuir na construção do pluralismo teológico respaldado pelo
conteúdo biblicamente coerente.
Pense
nisto!
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