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Prof. Leonardo Miranda
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Não
foi nem uma ou duas vezes que, em conversas informais com amigos e conhecidos, fui
interpelado sobre a Teologia, especificamente sobre a validade do conhecimento
teológico! Muitos já me perguntaram: “O que é teologia?” e “Para que serve
teologia?” ou ainda “O que fazer com o conhecimento teológico”?
Evidentemente
que no início, quando esta pergunta era feita inclusive por cristãos leigos eu
me surpreendia e até me chateava, contudo, com o tempo percebi que a Igreja
latina é laica, sendo produto de uma miscelânea de interpretações teológicas e
estratégias missionárias e, portanto, não privilegiar a teologia ou mesmo não
se preocupar muito com os fundamentos da fé cristã de modo sistematizado é
mesmo uma característica nossa. Mas não para a nossa alegria!
A
questão é que o latino, especificamente o brasileiro, não vê a educação em
geral, incluindo a cristã, como um fim em si e um patrimônio a ser alcançado. Ao
contrário, a ideologia do consumo transforma nossa cultura fazendo com que só
vejamos como patrimônio bens materiais. O resultado disso é que a educação e as
áreas de conhecimento das ciências humanas, incluindo a teologia, ficam relegadas
ao segundo plano, algo de menor importância, justamente porque as pessoas
pensam logo em como se beneficiarão de modo pragmático de qualquer informação
que obtiverem. Prova disso é que geralmente os salários pagos no primeiro e
segundo setor da economia em que as profissões são em sua maioria oriundas das
áreas das ciências biológicas e exatas são mais altos do que os do terceiro em
que prevalecem as profissões das áreas de ciências humanas.
Então,
diante das várias experiências de ser questionado, resolvi dar minha
contribuição sobre a validade do conhecimento teológico. Vamos refletir juntos:
Assim
como o conhecimento científico é o resultado da pesquisa científica que faz uso
de um método científico qualquer, o conhecimento teológico é o resultado da
pesquisa teológica que faz uso de métodos teológicos específicos.
E
como o conhecimento teológico visa alcançar uma das faces da verdade, para a
Teologia, essa face pode ser encontrada pelo caminho da investigação com base
em dois fundamentos:
- A fé: Deus falou aos homens por meio de
intermediários que transmitiram sua mensagem. Então, pode-se afirmar que a
teologia é uma reflexão racional e sistemática que parte dos dados da fé
e, por isso, pressupõe a fé.
- A Revelação de Deus: Essa Revelação tem
um fundamento histórico. O cristianismo parte, por exemplo, da existência
histórica de Moisés, do povo de Israel, de Jesus Cristo, dos Apóstolos.
Na
interação entre fé e Revelação ocorre a investigação da realidade e a busca
pela verdade com uma concordância intelectual acerca da existência de Deus e
sua intervenção na história. Assim, para o teólogo, a afirmação de que Jesus
Cristo morreu na cruz para a salvação dos homens contém um dado histórico e um
dado de fé. Historicamente, existem as provas para afirmar que Jesus morreu
crucificado, na província romana da Palestina, no ano 30 da era atual, mas só a
fé nele é que se pode afirmar que essa morte é o ato de salvação dos homens.
O
teólogo procura “entender” a fé, encontrar motivos para a sua crença, pois não
renuncia o uso da “razão”. Irá, então, sistematizar seus dados de fé e procurar
integrá-los em toda a sua experiência humana. Por exemplo, poderá perceber que
a mensagem de fé a respeito da “vida eterna”, da “ressurreição final”, é uma
resposta ao presente anseio de felicidade existente no homem; ou que todo o
estilo de vida de Jesus é uma boa premissa para acreditar nele.
Assim
sendo, o conhecimento teológico tem um aspecto “científico”, no sentido de que
é racional, metódico e sistemático. Pense, por exemplo, na sistematização das
disciplinas teológicas: dogmática, moral, ciência bíblica, histórica,
eclesiástica, mas tudo isso sempre a partir do ato de fé e das informações
contidas na Revelação. Então, objetos do conhecimento teológico são os dados da
fé, manifestados historicamente na Revelação.
Essa
é a razão de ser do conhecimento teológico que, a partir da fé, reflita sobre
Deus, sobre o ser humano, sobre o restante da realidade e como acontece a
inter-relação de todos estes personagens e elementos. Para isto, os métodos
teológicos devem ser usados na procura da integração entre a fé e a razão.
Repare
que na teologia os valores estão baseados no ensinamento do Reino de Deus cujo
patrimônio maior não é um bem material, mas sim assumirmos uma visão cristã de
mundo que nos possibilite representar, enquanto Igreja, os interesses de Deus e
seu Reino. Portanto, o maior bem do qual podemos nos beneficiar é a regeneração
em Cristo e a preparação para a eternidade com Deus. Como não há nada de
pragmático ou mercantilista nisto, é por isso que a maioria, inclusive de
cristãos leigos, não sabe o que fazer com o conhecimento teológico.
O
que vale mais: um ser humano ou uma casa? Uma pessoa ou um carro? Uma criança
recebendo educação e sendo preparada para a vida ou uma vaga de diretor de uma
grande corporação multinacional? Estas perguntas chegam a ser simplórias e
certamente, para alguns, até sem fundamento, mas observe que nos valores do
Reino e ser humano sempre valerá mais e nos valores fora do Reino, os bens que
podem ser adquiridos sempre valerão mais!
Pense
nisto! Pense na real validade do conhecimento teológico!
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