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Prof. Leonardo Miranda
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No artigo anterior foquei o conceito e a base bíblico-teológica
para a elaboração e o desenvolvimento da Educação Cristã. Neste artigo,
enfatizo razão de ser e o desafio desta proposta educacional crendo que a cultura por si só é algo positivo, mas está contaminada pelo pecado e precisa ser evangelizada. Assim, me apropriando de
um trabalho que já escrevi faz algum tempo e agora o publico parcialmente na
forma de artigo com as devidas adequações.
Pois bem, o foco da educação cristã está na antropologia cristã.
Considerando que o ser humano, existencialmente, pode ser visto como uma
espécie de microcosmo, uma síntese do universo que resume tudo o que é
encontrado no macrocosmo, o ápice da criação de Deus, isso o torna distinto das
demais criaturas por ter recebido a Imagem e Semelhança de Deus.
Essa Imagem e Semelhança o torna apto para aprender todas as
coisas. Assim, a Educação Cristã pressupõe que o homem nasceu com a capacidade
de adquirir compreensão da realidade e aprender as diversas formas do
conhecimento, porque tais capacidades foram dadas por Deus. Daí se conclui que
se todas as pessoas foram criadas por Deus à Sua Imagem, conforme Sua
Semelhança, todos não apenas devem, mas possuem o direito de ser igualmente
educados.
O
respaldo teológico dessa afirmação encontra-se na crença de que o homem é a
coroa da glória de Deus, pois nele foram reunidos todos os elementos materiais
e todas as formas e seus graus para exprimir toda a arte da divina Sabedoria. Ao
criar o ser humano, Deus o dotou com uma mente infinita e adicionou os sentidos
para ajudá-lo na questão do conhecimento, ou seja, é através desses sentidos
que a mente chega a todos os objetos externos e nada fica oculto. Então, não há
nada no mundo que um homem, dotado de razão e sentidos, não possa compreender.
Contudo, na Queda, o
pecado alienou toda a criação, ou seja, não destruiu a estrutura da ordem
criada e nem a tornou essencialmente maligna, mas a reorientou numa direção de
apostasia. Desde que a queda foi total o homem distorce seus pensamentos e suas
ações visando à idolatria. Porém a redenção proposta por Jesus Cristo envolve a
recriação do ser humano como “nova criatura” e, com isso, o seu
redirecionamento para Deus dando a devida importância para o restante de sua
criação. Tudo o que foi criado é objeto do amor redentor de Deus, que tem seu
alcance integral.
Assim cabe ao cristão a missão de
cooperar com Cristo para mostrar na cultura à humanidade caída as riquezas que Deus pôs na
criação para que ela mesma se envolva com a restante da realidade
harmonicamente e goze de tudo. E para que isso ocorra é preciso que o cristão
se envolva nas atividades culturais em todos os níveis da vida, tendo como
referencial a fé no Evangelho de Cristo.
E é aí que reside a razão de ser da Educação Cristã, de sua
existência enquanto ciência, enquanto produção cultural: o sentido de sua
funcionalidade. A cura para a corrupção humana não está na especulação dos
homens, mas no exame da realidade através de uma visão cristã de mundo e em
reconhecer que o problema existe e precisa ser tratado. Cabe, então, a Educação
Cristã servir como ferramenta que entrelaça todas as áreas do conhecimento com
a verdade da existência do Deus Criador e com a revelação proposicional
encontrada nas Escrituras,
para que, integralmente, o ser humano seja educado.
Já se sabe que para que o ser humano seja capaz de entender a si
mesmo e sobre sua interação com o ambiente em que se encontra é preciso
educação. Contudo não é qualquer educação, não se trata apenas de reprodução de
informações por si. Isso não faz nenhum sentido! É preciso que seu saber
teórico, seu saber crítico e seu saber técnico encontrem uma razão de ser, um
sentido. Daí a necessidade de uma educação integral, isto é, uma educação que
envolva o ser humano como um todo, uníssono: espírito, alma e corpo,
raciocínio, emoção e capacidade de escolha.
A educação não cristã, crendo numa suposta neutralidade, tende a
se manifestar como um movimento de intelectualidade dominante que vê o ser
humano de forma fragmentada com as áreas “religiosidade”, “racionalidade” e
“sociabilidade” incomunicáveis entre si, apenas caminhando juntas paralelamente.
Já a educação cristã faz o inverso, trabalhando para a promoção da
integralidade.
O objetivo é que a educação cristã promova formação cristã,
transformação pessoal, crescimento intelectual, e transformação da cultura de modo que a verdade e a
sabedoria instruam o educando em todas as suas dimensões, tendo como resultado
uma pessoa capaz de resgatar valores cristãos usando-os para a re-significação
ou construção de novos valores caracteristicamente teístas na cultura, na
ciência, na técnica, nas artes, na economia, na política e na própria educação
devidamente repensada.
Por isso, constituem-se como alvos imediatos da educação cristã, levantar sua
“bandeira de defesa da fé cristã” e, principalmente, formar pensadores,
cientistas, tecnólogos, filósofos, educadores, teólogos e todo tipo de
intelectuais, doutores nas ciências humanas, biológicas e exatas dotados de
princípios bíblicos e mente aberta para o estudo da criação
e cumprimento da ordenança divina de dominar sobre a terra.
Daí o grande desafio da educação cristã ao focar-se na
integralidade do ser, pois para que o objetivo seja alcançado é preciso
lançar-se diante da superação e apresentar uma educação que seja capaz de
recuperar os conceitos de verdade, realidade e possibilidade de conhecimento, cuja
base tenha Deus, o ser humano e o cosmos como referência.
E para isso, barreiras precisam ser transpostas, tais como:
- Desmantelar essa
idéia atual de que “sucesso pessoal-profissional” de qualquer pessoa
significa ser predador do outro e manter, no máximo, uma relação
superficial com esse outro.
- Ser capaz de
reconhecer a visão de mundo ateísta por trás dos princípios filosóficos
dos grandes pensadores não cristãos que vêm influenciando a sociedade ao
longo dos séculos.
- Trabalhar para
que os cristãos resgatem a capacidade de desenvolver cultura na
humanidade, ao invés de deixar isso para os não cristãos, libertando, definitivamente,
os cristãos da idéia de que somente a visão de mundo ateísta é parâmetro
acadêmico aceitável para explicar e desenvolver erudição;
Enfim, a educação cristã deve estar comprometida com a formação de
uma visão cristã de mundo que sirva como filtro para que tudo isso seja
realizado e o ser humano viva em harmonia com Deus, consigo, com o próximo e
com a natureza, ou seja, viva integralmente.
Trabalhar para a formação integral do ser humano é a realização
máxima da educação cristã. O desejo de que ocorra essa realização está embasado
nos fundamentos da doutrina cristã, cujo princípio central é o conhecimento que
se deve ter sobre Deus e que dá sentido à vida humana.
A partir desses fundamentos, a educação cristã compreende que a formação integral
ocorre no desenrolar do processo educativo através da associação feita entre a
espiritualidade humana e os demais aspectos da formação educacional (a língua,
a literatura, a história, a ciência, as artes, o esporte e todas as demais que
compõem um currículo escolar), tanto no âmbito individual quanto no social.
Pense nisto!
De acordo com o
comentário encontrado na Bíblia de Estudo
Genebra, esse domínio é entendido como o mandato cultural, isto é, Deus deu
uma ordem, um mandato em que o homem deve dominar sobre a natureza (entendida,
aqui, como reino animal, vegetal e mineral) promovendo intervenções benéficas
nela, isto é, produzindo cultura. Um exemplo bíblico disso foi a capacidade que
Deus deu ao homem de dar nomes aos animais (Gn 2:19,20). Mais detalhes conferir
nessa apostila o capítulo 3, Bases
Teológicas da Educação Cristã, tópico 3.5. A Doutrina da Vocação e o Mandato Cultural.
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