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sábado, 17 de dezembro de 2011

CONSEQÜÊNCIAS DO USO DA FILOSOFIA NÃO-CRISTÃ NO MEIO CRISTÃO E UMA PROPOSTA DE COMBATE


Imagem extraída do Google Image
Prof. Leonardo Miranda
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Boa parte dos cristãos entende que o Cristianismo é uma forma diferente de crença, mas não necessariamente de pensamento. Segundo eles, só haveria uma forma de raciocinar, válida tanto para crentes como para incrédulos. Todavia, há uma maneira cristã de pensar e conseqüentemente de agir.[1]

A tradição Cristã Reformada, depois de assumir o conceito de “cosmovisão cristã” (visão cristã de mundo), que é a compreensão de que o cristão deve ver e atuar em todas as instâncias da vida humana a partir de uma perspectiva bíblico-cristã, propõe que a Igreja e a teologia não assimilem ensinamentos filosóficos pagãos para se constituir. Isto significa que a fé cristã é independente diante da filosofia, mas não significa dizer que quando algum cristão vai refletir sobre a realidade não esteja fazendo uso da filosofia enquanto meio de racionalidade que acompanha o pensamento teórico. Parece meio confuso: se uso a filosofia para refletir, mas não devo usá-la enquanto cristão, o que devo fazer? Simples: reformar a filosofia! Esta reforma acontece quando o cristão, seja leigo ou teólogo, parte da concepção de religião como pressuposição usada em toda filosofia.[2] Vamos entender isto melhor!

Repare que habitualmente as pessoas tentam partir da neutralidade do pensamento e da racionalidade pura como ferramenta de início e fim de qualquer reflexão, contudo, não existe esta imparcialidade que muitos afirmam existir, principalmente porque toda a humanidade parte do ponto de vista religioso para se expresar. Vejamos: “a religião é entendida como sendo a orientação fundamental do homem no centro de seu ser, em direção a uma origem”.[3] Observe que com esta definição temos que qualquer pessoa, até o ateu, é religioso no sentido de crer em alguma coisa que dê sentido para a vida. Assim, quando alguém raciocina, seu pensamento não está neutro, antes, esta pessoa está raciocinando a partir de valores as quais ela acredita serem verdadeiros e inquestionáveis e indubitáveis, pois estão armazenados em sua crença, isto é, em sua religiosidade que antecede sua razão.

Este “centro do ser” humano é popularmente chamado de “coração”, e é justamente esta orientação que determina o funcionamento de toda vida do homem incluindo sua fé e seu pensamento filosófico. Portanto, considerando a entrada do pecado na vida humana pela queda de Adão e Eva e que o homem teve seu centro corrompido e, por conseguinte, desviou-se de todas as suas funções, é de se esperar que o pensamento filosófico do não-cristão seja oposto a Deus e caracterizado por uma interpretação distorcida de si mesmo e da realidade. Por isso não é possível refletir a fé cristã a partir do uso da filosofia não-cristã. Fazer isto, como alguns ingenuamente acham que conseguem, é, na verdade, uma tentativa de sintetizar doutrinas cristãs com propostas anticristãs[4].

Voltamos, então, à pergunta inicial: Ora! Se o cristão não deve se apropriar da filosofia não-cristã para refletir sobre a realidade, então como deve fazer? Voltamos, então, à resposta inicial: Muito simples! Deve reformar a filosofia!

Reformar é pegar todas as crenças, todos os conceitos e todas as idéias que não possuam bases cristãs e submetê-las ao crivo do evangelho com intuito de que o que houver de verdade e o que houver de falsidade na mesma produção, manifestem-se.

E como combater a prática deste sincretismo, desta mistura dos fundamentos cristãos com a forma de pensar não-cristã, com a filosofia pagã? Simples! Fazendo uso da visão cristã de mundo com uma forma de pensar genuinamente cristã! Observe:

Todo cristão deve firmar um compromisso com a verdade bíblica tomando para si a cosmovisão cristã integral como ponto de partida para o pensamento cristão, incluindo a busca por uma reforma do pensamento, seja ele científico ou filosófico. A essa proposta deu-se o nome de “filosofia reformacional”, ou “pensamento reformacional”, que aqui chamamos de “filosofia cristã”. Nas palavras do pastor Guilherme Carvalho:

“...um pensamento teológico fiel à fé cristã exige uma reforma interna do pensamento filosófico, e o desenvolvimento de um instrumental filosófico radical e estruturalmente bíblico. [...] Não é que nada possa ser aproveitado, entre os produtos culturais e intelectuais dos incrédulos, mas que nada pode ser aproveitado sem reforma”[5].

Pense nisto!


[1] Aos interessados, sugiro a leitura do artigo Existe uma “forma Cristã” de Pensar? A Idéia de uma Reflexão Cristã na Tradição Reformacional. CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. Existe uma “forma Cristã” de Pensar? A Idéia de uma Reflexão Cristã na Tradição Reformacional.  RTPC, ano 6, n. 23, julho/dez. 2005.
[2] CARVALHO, Guilherme Vilela Ribeiro. O dualismo natureza/graça e a influência do humanismo secular no pensamento social cristão. In: LEITE, Cláudio Antônio Cardoso, _______, CUNHA, Maurício José Silva (Organizadores). Cosmovisão Cristã e Transformação: Espiritualidade, Razão e Ordem social. Viçosa: Editora Ultimato, 2006.
[3] Ibidem, p.142.
[4] Ibidem, p.142.
[5] Ibidem, p.142, 143

sábado, 10 de dezembro de 2011

A GRAÇA DE DEUS PELA CRUZ: ALÍVIO PARA O FARDO DOS FARISEUS










Imagem extraída do Google Images
Jader H. Faleiro
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Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, 
mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los (Mt.23:4) 

Jesus dizia estas palavras referindo-se aos fariseus e aos doutores da lei, pessoas religiosas que tinham nas práticas religiosas sua glória e honra, porém todo zelo em cumprir a tradição lhes fizeram como “máquinas” sem sentimentos, programados somente para o que era “certo ou errado”! E quantas vezes não lemos sobre o amado Senhor Jesus os exortando, chamando-os de sepulcros caiados por causa da petulância e arrogância com que eles se dirigiam aos pequeninos. 

Em nossos dias infelizmente o farisaísmo está em alta, porém ao invés de judeus fanáticos, temos basicametne dois tipos de fariseus: líderes fanáticos e membros “embriagados” em suas ilusões pseudobíblicas, com seus dedos em riste apontando para todos que não aceitam suas ideologias falidas. 

Em se tratando dos líderes fanáticos, é notório o fardo sendo colocado nos ombros das pessoas quando essas são ludibriadas a doarem mais do que o Espírito Santo as moveu para doar, quando são forçadas a confessar uma cura, porque estão sendo constrangidas em frente à igreja e se elas disserem que nada aconteceu, subentende-se que Deus não usou o “profeta” ou que ela não tem fé! O fardo fica cada vez mais pesado quando as pessoas são obrigadas a acreditar que elas precisam fazer algo para “mover o coração de Deus”, fazer algo que O motive a operar. Estes são alguns exemplos dentre os mais conhecidos de farisaísmo moderno de algumas lideranças. Para estes eu deixo a pergunta: se Jesus fosse membro deste grupo, será que ele concordaria com tais posturas? 

Em se tratando dos membros “embriagados”, o fardo fica mais pesado quando a arrogância toma conta do meu ser, e ao contrário do que o Evangelho ensina, eu me sinto superior aos meus irmãos em Cristo. O apóstolo Paulo ensinou que temos que olhá-los e considerá-los superiores a nós mesmos! Mas não acabou por aí! O fardo continua pesado quando acuso meu irmão, ou seja, deixo a posição de servo e passo a ser juiz. A Bíblia nos ensina em que ocasião e como devemos exortar nossos irmãos, mas na maioria das vezes o fazemos por orgulho, por nos acharmos mais santos, mais íntimos de Deus. 

Paradoxalmente, queremos que Deus manifeste em nossas vidas Seu poder para que todos vejam Sua Glória, porém não queremos ser misericordiosos como Ele é. Se buscássemos manifestar em nossas vidas e cultos Seu amor e misericórdia como desejamos Seu poder, acredito que muito mais pessoas já teriam sido alcançadas e não veríamos o islamismo e outras seitas crescendo como tanta intensidade. 

Mas o pior e mais pesado de todos os fardos é o ensino de que as pessoas precisam lutar para serem salvas, como se a obra de Cristo fosse apenas um “empurrãozinho motivacional” dado pelo Senhor e o resto é conosco. Se conseguirmos, no final teremos o gozo eterno, se não, no final teremos a fúria do Deus mal com grande expectativa em nos punir e nos lançar no lago de fogo e enxofre porque não cumprimos seus mandamentos “tão fáceis de serem cumpridos”. Este fardo é lançado tanto por líderes quanto por membros! 

O resultado desses fardos pesados tem sido a evasão da igreja para o mundo. Com a falta de base bíblica, de um ensino consistente dos fundamentos da fé cristã, com as imposições pseudodoutrinárias e comportamentais, como as já citadas nada cristãs, o resultado é uma comunidade que se diz cristã, porém imatura, que se deixa levar por qualquer vento de falsa doutrina[1] e que assume conceitos e costumes mudanos. Com isso, qualquer motivo serve para não congregarmos; mesmo o mais banal. Ler a Bíblia, então, pode esquecer! Conceitos pós-modernos como a velocidade de informação, a necessidade de se fazer tudo ao mesmo tempo, o prazer acima de tudo, tem entrado nas igrejas locais de tal maneira que as pessoas estão deixando seu ministério porque não gostaram da pregação do pastor, ou porque não gostam de um determinado irmão. 

Nestas horas eu me pergunto: Onde está a cruz, onde está a graça? Aprendemos sobre elas pelo conhecimento genuinamente bíblico! Se refletirmos profundamente perceberemos que, na íntegra, ninguém consegue viver uma vida cristã sem a obra libertadora de Cristo na cruz. Somos maus por influência do pecado em nossas vidas. Em pecado nascemos e em iniquidade nos gerou a nossa mãe em seu ventre.[2] O bem que sabemos que devemos fazer este não o fazemos, mas o mal que sabemos que não devemos fazer é este que o fazemos.[3] É por isso que ninguém consegue seguir os ensinos bíblicos se não nascer de novo, se não houver regeneração, se não houver a frequente misericórdia da parte de Deus, enfim, se não houver a manifestação da graça de Deus. Quando oramos, quando agradecemos, quando congregamos, quando lemos e estudamos a Bíblia, quando exercemos a moral cristã, quando vivemos em contato com as mais diversas áreas da vida humana, fazemos tudo isto pela graça de Deus. Existimos pela graça! Tudo é pela graça! 

Os cristãos da Reforma Protestante entenderam isto quando racionalizaram o conceito Sola Gratia (somente a graça). Sem nehuma presunção, afirmo que muitos, talvez a maioria dos cristãos, ainda não entenderam o significado dessa expressão, não porque está em latim, mas porque a Graça de Deus no sentido bíblico incomoda essa geração que é viciada em conceitos capitalistas de troca e lucro, não conseguem entender o favor de Deus para com a humanidade. Ele deu Seu único filho, não é uma troca, é Graça! Ele sim poderia cobrar-nos fardos pesadíssimos, mas resolveu que aliviaria todo aquele que estivesse cansado e sobrecarregado. Novamente afirmo: isto é Graça! A Graça de Deus é o refrigério eterno para nossas almas, pois nos revela o amor de Deus para com a humanidade, nos revela a eficácia do sangue de Cristo, pelo qual fomos comprados. 

A Bíblia já nos declara pecadores, totalmente depravados, mostrando-nos o quanto vivemos de forma distorcida afastados da comunhão com Deus. Não há necessidade de sermos acusados por mais ninguém ou apontados por outras pessoas ou, ainda, sermos submetidos a sistemas corruptos de poder por meio de nossa ignorância como estes fariseus modernos tentam fazer hoje. Aliás, se pensarmos bem, até a tentativa deles de domínio e poder, tanto de líderes quanto de membros, também é uma manifestação de pecado e uma prova de que eles mesmos não compreenderam nem a cruz e nem sua graça. 

A verdade é que qualquer fardo fica impossível de se carregar quando o tento fazer sem a Graça de Deus! E qual a resposta bíblica? A resposta é simples: A graça de Deus pela cruz! A cruz se manifesta pela graça e esta mesma cruz manifesta graça! Há uma inter-relação! Só é possível a obra da cruz porque Deus, por sua graça, a permitiu; como consequência, é por esta mesma obra da cruz que Deus derrama de sua graça sobre nós! Assim sendo, nos lembremos do ensino de Cristo ao manifestar sua graça contra os fardos pesados dos fariseus: “Vinde a mim todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”.[4]

Muito obrigado meu Deus por ter-nos alcançado com Sua Graça pela cruz!


[1] Cf. Efésios 4:13,14.
[2] Cf. Salmo 51:5,6.
[3] Cf. Romanos 7:14-24.
[4] Cf. Mateus 11:28

sábado, 3 de dezembro de 2011

PORQUE A IGREJA LOCAL PERDEU SUA CREDIBILIDADE?














Pr. Márcio Leão
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Talvez você possa achar um pouco arrogante da minha parte escrever sobre isso, mas lamentavelmente é o que se percebe na igreja da atualidade, um descompromisso tão grande ante a sociedade que muitas deveriam se perguntar: “De fato, qual a sua relevância para a comunidade a qual ela está inserida?”

Primeiramente é bom ressaltar qual o “conceito” de igreja, ou melhor, o que a igreja se tornou para muitos. Na década passada um grupo de pastores, em São Paulo, chegou a conclusão que as atividades de dezenas de milhares de igrejas, giram em torno de quatro idéias centrais:[1]

1.    O prédio da igreja ou o “templo”
2.    O domingo, o “sabá cristão”
3.    O culto de adoração
4.    O pastor de tempo integral

O Prédio da igreja

Ser igreja significa ter propriedades de verdade: terreno e prédio. Se ele for novo, sentimo-nos bem com isso. Se for velho, sentimo-nos um pouco desconfortáveis. Dificilmente, percebe-se um grupo de cristãos se ele não tiver um prédio.

Domingo

Ser igreja é “guardar o sabá”, o dia em que adoramos e servimos ao Senhor. Os muçulmanos, por exemplo, adoram na sexta-feira; os judeus, no sábado; e os cristãos, no domingo.

Culto de adoração

Ser uma igreja significa ter culto de adoração. O culto de adoração é o momento em que a pessoa encontra Deus, e no qual Deus alcança o perdido. A preparação da liturgia acontece ao longo da semana para que as músicas, o drama, os testemunhos e a pregação sejam tão agradáveis e convincentes quanto for possível. A “adoração” precisa tocar no coração das pessoas, falar com elas, para que assim estejam preparadas para receber a Palavra que será ministrada pelo pastor.

Pastor de tempo integral

Em muitas partes do mundo, ser igreja significa ter um pastor de tempo integral. Na linguagem tradicional, o pastor é “o homem de Deus”. Os pastores, diferente dos demais, foram treinados para o ministério. Eles entendem Deus melhor que nós. Os pastores sabem como organizar e estruturar a igreja melhor que nós. A igreja se encontra incompleta sem o pastor.

Em síntese, o prédio da igreja, a vida cristã centrada no domingo e o altamente poderoso culto de adoração dirigido pelo “soberano pastor” constituem as características em que centenas de milhões de crentes definem como igreja. Mas, ao fazermos a leitura de Atos 2: 42 – 47 nos deparamos com um conceito contrario ao que definimos como igreja na atualidade; muito diferente mesmo.

O que observamos na verdade é uma igreja que vivia em uma profunda koinonia (comunhão), perseverança na doutrina, temor, piedade, comprometimento, enfim, uma mudança de caráter de maneira que se pode até dizer que o meio mais eficiente que tinham para pregar o evangelho era a prática do mesmo.

E o que fizemos com tudo isso? Pegamos toda a vida comum da igreja e “encaixotamos” dentro do templo e a limitamos às características supracitadas. Se observarmos, dos muitos livros que tratam de igreja na atualidade, pouco se fala das pessoas como igreja, mas sim do templo, por exemplo, o livro Uma igreja com propósito – Rick Warren, Editora Vida, basicamente se resume em fazer algo que atraia as pessoas e maneiras que promovam o crescimento, um dos comentaristas do livro chega a dizer: “Depois de Atos, aqui está o melhor, mais prático e o mais rico ensino sobre o crescimento da igreja”.

Como pastor, fico a me perguntar, até quando os lideres das igrejas locais ficarão preocupados em desenvolver algum trabalho para promover o “crescimento” numérico de “suas” igrejas? Antes eram os cristãos que caíam na simpatia do povo (At 2:47), hoje é o templo e o que se faz dentro dele que deve agradar as pessoas. Acrescentamos o que na verdade Deus deveria acrescentar, deixamos o papel de igreja e assumimos distorcidamente o “papel” do Espírito. Estamos mais preocupados em fazer ou pregar algo que agrade as pessoas e pouco preocupados em viver a verdadeira vida cristã. Como um pastor disse em uma formatura: A melhor maneira de se pregar teologia é na pratica.

A “igreja local” perdeu sua credibilidade porque a igreja que vive dentro dela deixou de ser igreja, não discipulamos mais cristãos, fabricamos “conquistadores”, tratamos as pessoas dentro do templo como “doentes”, não importa o tempo que elas freqüentam os cultos, sempre falaremos de seus anseios e lutas, não formamos Cristo nas pessoas, mas despertamos nelas um espírito narcisista, e quando a fonte secar, elas irão embora procurando outra igreja que lhe atenda. Infelizmente as pessoas não estão mais interessadas em ouvir sobre o que Deus fez na cruz, mas sim do que Ele pode fazer hoje, agora com base em suas necessidades egoístas. Caso contrário não tem sentido servi-lo.

Como os reformadores Martinho Lutero e João Calvino insistiram, a verdadeira igreja está centrada na Palavra e no Espírito. A igreja é o local em que Jesus é glorificado, em que o Espírito é ativo e em que o coração dos crentes é incitado com amor e zelo. Ao longo da história do cristianismo, no entanto, quando a Igreja ficou preocupada consigo mesma (com a própria aparência e organização), sofreu de anemia espiritual.[2]

A igreja local perdeu sua credibilidade porque as pessoas não cuidam mais uma das outras, não existe mais koinonia sincera. Perdeu credibilidade porque tornou o estilo de vida cristã em mais uma religião. Perdeu credibilidade porque vive em meio a uma sociedade como se não estivesse no meio dela. Que sentido faz haver uma igreja local se esta não tiver, entre muitos, o objetivo de influenciar a comunidade a qual está inserida com a responsabilidade social evangeliadora?

Charles Colson, autor do livro E agora Como Viveremos?, CPAD, tratando da influencia da cosmovisao cristã na sociedade diz:

Evangelismo e renovação cultural são, ambas, tarefas divinamente ordenadas. Deus exercita a sua soberania de duas maneiras: através da graça salvadora e da graça comum. Estamos bem familiarizados com a graça salvadora; é o meio através do qual o poder de Deus chama pessoas que estão mortas em suas transgressões e pecados para uma nova vida em Cristo. Como servos de Deus, devemos ser agentes de sua graça salvadora, evangelizando e trazendo pessoas a Cristo. Mas poucos de nós realmente entendem a graça comum, que é o meio através do qual o poder de Deus sustenta a criação, retendo o pecado e o mal que resulta da Queda e que, de outra forma, dominaria sua criação como uma grande enchente. Como agentes da graça comum de Deus, somos chamados a ajudar a manter e renovar sua criação, a sustentar as instituições formadas da família e da sociedade, a buscar a ciência e a sabedoria, a criar obras de arte e beleza e a curar e ajudar aqueles que sofrem com os resultados da Queda. (pg.13) [3]

Convido a todos que fizerem a leitura deste artigo a avaliarmos o que de fato temos feito para a propagação do Reino de Deus para a sociedade, a vivermos mais o evangelho e “pregar” menos, a influenciar o meio em que vivemos com demonstração de piedade, em vez de tirar, acrescentar; em vez de julgar, perdoar; em vez de criticar, fazer melhor. Caso contrário é melhor que se fechem as portas dos templos e voltemos ao primeiro século.

Soli Deo Gloria




[1] Horrell J. Scott, A essência da Igreja, pag. 16-18, São Paulo, Editora Hagnos, 2006.
[2] Horrell J. Scott, A essência da Igreja, pag. 26, São Paulo, Editora Hagnos, 2006.

sábado, 26 de novembro de 2011

A HISTÓRIA DA TEOLOGIA CONTINUA...






Imagens extraídas do Google Image                                                                                    Prof. Leonardo Miranda
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Quando um material de pesquisa no campo da História está sendo produzido, é de se supor que o autor sonhe, reflita, se veja imaginariamente diante do leitor ou estudante, mas acima de tudo, ainda que esteja longe na realidade, é possível sugerir que ele deseje que a pessoa que tiver contato com sua bibliografia seja transformado.

A História da Teologia, encontrada em diversas obras bibliográficas, revela sobre pessoas que foram transformadas e entenderam que elas não deveriam se comportar como passivas diante da locomotiva da vida que passava por elas. Antes, elas poderiam ser em parceria com Deus, o maquinista, co-autores na construção da História e da própria vida. E é pensando assim que se conclui que o contato com qualquer literatura de História da Teologia só pode resultar em duas consequências: uma tomada de consciência ou não.

O que se espera é que o estudante compreenda e se veja não como mais um na multidão, mas como alguém que pode promover significativas contribuições. Só porque normalmente o conteúdo exposto nos livros de História da Teologia encerra-se no século XX isto não quer dizer que novas propostas teológicas não possam ser construídas, ou até que novas tentativas de resgatar a Identidade da Igreja não possam ser tentadas ou até mesmo que não se possa pensar sobre a suficiência ou a insuficiência dos modelos teológicos atuais.

Seria pecado ou atrevimento avaliar a ortodoxia e adequá-la aos dias de hoje? Seria errado tentar aproveitar os princípios da Reforma Protestante e quem sabe até lutar por uma nova Reforma? Seria inconveniente ousar nas respostas teológicas para hoje? Seria antiquado lutar pela chama do Cristianismo na pós-modernidade em face de tanto relativismo? Ou o pecado está exatamente na omissão? Isto é, no bem que o cristão, e mais especificamente o teólogo, sabe que tem que fazer e não faz?[1]

Algo interessante de se notar é que Deus não construiu a História da Teologia sozinho. Muito pelo contrário, Ele deu discernimento a homens que, depois de terem sido resgatados pela sua graça, lutaram em prol do Evangelho, da verdade de Deus que sempre se mostrou antagônica aos valores estabelecidos pelo pecado na vida humana.   

Assim, a História da Teologia continua, porque o cristianismo continua, a Igreja continua. Passarão os céus e a terra, mas as palavras do Senhor Jesus não hão de passar[2] e se ele estabeleceu a Igreja e prometeu que as portas do inferno não prevalecerão[3], é porque a Igreja sairia de seu lugar e iria ao encontro das vidas que precisam receber a mensagem do Evangelho, saqueando, metaforicamente, o inferno. E essa ação missionária demandaria, como continua demandando, respostas tanto aos incrédulos quanto aos recém-chegados à fé cristã e até mesmo aos próprios cristãos.  

Os grandes momentos de produção teológica ocorreram e anda ocorrem exatamente dessa relação com a prática evangelical. Não para satisfazer as necessidades do ser humano como um fim em si, mas para a obediência, por gratidão a Cristo, conscientes de sua obra. Desse modo, os questionamentos nascem do contato com o anúncio da verdade bíblica no meio dos não-convertidos e o berço das novas teologias está onde os cristãos sinceros e desejosos da implantação e vivência do Reino estão.

De fato, a História da Teologia continua. Enquanto Cristo não se manifestar com o Reino plenamente, o teólogo continua tendo a obrigação de contribuir com respostas no meio de sua comunidade e continua sendo capacitado por Deus para defender o cristianismo, refutando os falsos ensinos e batalhando pela fé que uma vez foi dada aos santos.

Assim, o que se faz é um convite a todos os “profetas Isaías” que são ao mesmo tempo “Apóstolos”, “Pais da Igreja”, “Reformadores” e acima de tudo, ministros do genuíno Evangelho da Graça em seu coração! Que se “coloquem na brecha” [4] e sejam usados por Deus para denunciar as heresias, os erros e as controvérsias teológicas, sempre com zelo, mansidão, humildade, ponderação, reflexão e sensibilidade espiritual. Tendo o cuidado de entender que a unidade cristã absoluta é uma utopia e a maturidade para saber que não se deve fazer uso desnecessário do poder, e nunca abandonar os princípios bíblicos e a oração, jamais desanimando por causa dos obstáculos internos ou externos, afinal, se nossos “antepassados na fé” desistissem, a mensagem sobre o amor de Deus não teria chegado a nós.  

Daí o convite, a todos os que desejam contribuir para a confirmação de que o Reino de Deus é uma realidade, e se manifesta entre os homens através da Igreja e suas ações no mundo, incluindo as ações teológicas, que sempre serão possíveis... porque a História da Teologia continua!

Pense nisto!


[1] Cf. a epístola de Tiago 5:17.
[2] Cf. o evangelho de Mateus 24:35.
[3] Cf. o evangelho de Mateus 16:18.
[4] Os exemplos citados aqui são exatamente o contrário. Deus procurou intercessores, ministros que estivessem “na brecha”, segundo a linguagem bíblica, e não encontrou. Cf. os livros de Isaías 59:16 e Ezequiel 22:30.

sábado, 19 de novembro de 2011

DESAFIO MISSIONÁRIO ATUAL


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Prof. Paulo Cunha
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"... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém 
como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da 
terra." (Atos 1:8)


O contexto das missões está mudando rapidamente. A Igreja deve estar atenta a essas mudanças. Durante muitos anos vimos países fechados para a liberdade de expressão e para o Cristianismo sofrerem grandes mudanças políticas que possibilitaram a entrada do Evangelho. A antiga União Soviética, por exemplo, não existe mais, senão vinte países interligados e soberanos como nação, cada qual, com uma política livre. A Europa tem sofrido mudanças a passos assustadores. Também temos assistido pela TV freqüentemente notícias demonstrando o impacto econômico que determinados países, antes inexpressivos, como Coréia e China, agora estão provocando no mundo. Vimos também o drama em 2006 de 12 países às margens do Oceano Índico serem brutalmente submergidos pelas gigantescas ondas marítimas provocando a morte de mais de 300.000 pessoas. Evento que, por sua vez, obrigaram países como a Indonésia (considerado o país mais dominado pelo islamismo) abrir suas fronteiras para a entrada de socorro ao povo que sobreviveu, o que permitiu a entrada de vários missionários como voluntários. Olhando para a América Latina, tomamos conhecimento de décadas de opressão severa provocada por países ricos e líderes ditadores, mas que pouco a pouco estão emergindo-se com governos democráticos, economias cada vez mais livres e o protestantismo crescendo rapidamente onde o catolicismo romano era determinante.

É claro e visível a ação do Espírito Santo na história dos países em todo mundo. Sabemos que os últimos dias não são dias de paz sobre a terra, mesmo assim vemos Deus soberanamente levando as boas-novas através da Igreja até aos confins da Terra. A violência étnica e religiosa contra a Igreja está perdendo forças em todos os lugares e ela tem encontrado oportunidades de exploração como nunca visto antes.

Tudo isto torna desafiador para nós entendermos o contexto de missões em todo mundo. Com a gradual extinção da dicotomia entre o mundo espiritual e natural (no campo das responsabilidades), entre evangelização oral e envolvimento em questões sociais, a Igreja tem aprendido a olhar para o mundo não apenas como seu inimigo (Tiago 4:4), mas como sua missão (Marcos 16:15). Este efeito vem provocando uma reavaliação de suas prioridades e metodologias ministeriais que correspondem melhor com o aspecto vocacional e a realidade da visão cristã de mundo.

Depois de tanto tempo, hoje é que estamos compreendendo que não podemos mais separar a dimensão espiritual da experiência humana em suas evidências mais naturais e/ou mundanas. As pessoas são como um todo (corpo, alma e espírito) vivendo em estruturas sociais complexas nos seus contextos econômicos e políticos.

A pobreza espiritual e social em que vivem os povos é um chamado vivo para pregarmos o Evangelho de Jesus e um desafio para nós como Igreja que recebeu das mãos do seu Senhor a responsabilidade de ir, orar, mobilizar, treinar e pela a ação do Espírito Santo enviar trabalhadores a semear nesta terra, seja local, estadual, nacional ou mundial.

Neste momento crucial, onde estamos terminando a primeira década do século 21, que Deus nos use como testemunhas fiéis, seja onde estamos, seja onde Ele nos levar, e que possamos ser sábios em Deus para discernirmos os tempos e percebermos as oportunidades em nossa volta para propagar o Evangelho do nosso Senhor.
  
Soli Deo Gloria


sábado, 5 de novembro de 2011

ESCUTAR FAZ TODA A DIFERENÇA


















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Prof. José A. Nogueira
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É interessante como as pessoas tem o incrível dom de aconselhar ou de falar horrores em nossa cabeça quando estamos atravessando por um problema sem antes ter a hombridade de ao menos nos escutar. Sim, escutar faz toda a diferença!

A Palavra de Deus em Tiago no capítulo primeiro versículo dezenove nos adverte a ouvir. Obviamente, antes de Freud ter nascido, Deus já inspirava homens para que fossem registrados conselhos úteis que fizessem toda uma diferença na vida de um ser humano ao serem postos em prática. Não há mística nenhuma nisso! Um raio não vai cair do céu se você desobedecer às orientações bíblicas, mas certamente, você irá provar as consequências dolorosas por tê-las negado, simples assim!


Bom, onde quero chegar? Para a psicanálise, quando falamos sem ao menos ouvir aquela pessoa que está atravessando por um determinado problema e consequentemente “empurramos” nela um monte de: “se eu fosse você, eu faria isso...!”, observe que estamos quase violando o Self (o “ego”, o “eu”) dessa pessoa, empurrando o nosso “Eu” para dentro dela. É como se estivéssemos descontruindo o “Eu” que ela possui ditando o que o meu “Eu” poderia ter feito. O que nos esquecemos é que cada um de nós é único e que cada um de nós tem um temperamento, um caráter, uma história distinta. Sim, não somos iguais! O fato de precisarmos do outro para fixar a nossa identidade está exatamente aí, em nos compararmos para descobrir no que somos diferentes.

 
Portanto, falar sem escutar é um erro intolerável para a psicanálise, logo, entendemos que recuperar, ajudar, e incentivar são fatos que podemos conseguir juntos: analista e analisando. Um verdadeiro trabalho em equipe. Não se pode dizer o que a pessoa com problemas pode fazer sem conhecer, sem pesquisar, sem entender “os porquês”. É inaceitável não compreender alguém simplesmente porque está demorando meses para se superar. Reflita nisso: Um homem pode correr de uma barata e desafiar um leão, outro homem, correr de um leão e enfrentar baratas! Isso vai depender da história de vida de cada um de nós, das predisposições e do contato social.

 
Na teologia, observamos também o princípio de dar atenção ao indivíduo! Observe João 21:18 a 22: Pedro recebia orientações de Jesus sobre a sua morte,quando teve a sua atenção tirada ao ver João passar próximo a ele; então pergunta a Jesus: “Mestre, e deste, o que será?” Pesquise a resposta de Jesus a Pedro no versículo vinte e dois e perceba como Jesus sabia dar ênfase ao sujeito, à subjetividade contida na vida de cada um dos seus discípulos.


Ninguém deve deixar de socorrer um irmão na sua aflição; antes devemos ajudá-lo, contudo não devemos censurá-lo ou criticá-lo, mas sim, encorajá-lo. Devemos ouvi-lo atentamente, e nunca dizer o que faríamos, mas o que poderia ser feito juntamente com a ajuda dele e com o consentimento dele através de um bom discurso e de um bom diálogo. É preciso amar, compreender e empatizar, lembrando sempre: “... cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz..." (Renato Teixeira). É por isso que não podemos simplesmente dizer ao outro o que fazer, antes devemos acreditar em sua capacidade! É por isso que escutar faz toda a diferença!

sábado, 29 de outubro de 2011

UM MESSIAS PARA TODOS OS POVOS















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Prof. Leonardo Miranda
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A vida inteira de Jesus, sua morte e ressurreição estavam intimamente ligadas à promessa de Deus de repartir as bênçãos de Abraão entre todos os povos da Terra. Para isso, Deus usou pessoas e situações não ligadas a Israel para o cumprimento da vinda de Jesus, o Messias. Da leitura do Antigo Testamento descobrimos que Tamar, mulher de Judá, era da família de Canaã; Raabe, a prostituta de Jericó, que escondeu os espias judeus pouco antes da famosa queda da cidade, foi casada com o hebreu chamado Salmom e participa com ele da genealogia de Cristo. Rute, a moabita, casou-se com Boaz, filho de Salmom e Raabe, e deu a luz um filho chamado Obede, que veio a ser o avô do rei Davi, de onde procede a genealogia de Jesus. César Augusto, um imperador gentio, garantiu, por meio de um decreto, que o nascimento de Jesus acontecesse em Belém, a cidade de Davi, para que se cumprisse a profecia do Antigo Testamento feita pelo profeta Miquéias. Jesus também encontrou segurança contra Herodes no Egito, terra de gentios. 

Todos esses episódios de gentios, isto é, de não judeus, que fizeram parte da genealogia de Jesus ou terem sido usados no contexto de um propósito maior em benefício do ministério terreno do Salvador, só servem para confirmar o que Jesus deixou claro no ensino do Evangelho: que nós, os gentios, temos um potencial tão grande para a fé quanto os judeus; e somos igualmente abençoados por Deus no que se refere ao derramamento de sua graça! Não por merecimento, como o nome sugere é derramamento de “graça”! Jesus fazia uso das situações ocorridas com não-judeus como exemplos para ensinar sobre retidão aos judeus; exemplo disso é a clássica parábola do bom samaritano.

Ao contar histórias desse tipo, Jesus dificilmente poderia ser acusado de favorecer aos judeus. Muito pelo contrário, Jesus afirmou aos samaritanos e aos seus discípulos que sua comida era fazer a vontade de seu Pai, essa vontade consiste no cumprimento da promessa divina feita a Abraão de abençoar “todas as famílias da terra”.

Jesus preveniu que o fim do mundo não virá enquanto o mundo não conhecer, enquanto o evangelho não for pregado a todas as nações[1]. Na frase original em grego, alguns estudiosos afirmam que o vocábulo ta ethne deveria ser traduzido como “todos os povos”, e não todas as nações, pois isso implica na possibilidade interpretativa de que Jesus estaria interessado em estruturas políticas transitórias, temporais, ao invés de comunidades humanas etnicamente distintas.

Todavia, considerando que todos os homens, que compreenderem que o sacrifício de Jesus foi pela expiação de seus pecados, se sentirão atraídos por Ele, o missiólogo Ralph Winter afirmou que Jesus não veio para delegar a Grande Comissão, ou seja, a ordem de ir e anunciar o Evangelho a todo o mundo, mas, sim, tirar dos judeus e passar para a Igreja, para que o mundo visse o que os cristãos gentios fariam uma vez que a recebessem nessa forma imperativa descrita no Novo Testamento: ide...!

A lição deixada nos Atos dos Apóstolos

Milhões de cristão interpretam que o livro Atos dos Apóstolos escrito por Lucas registra a obediência dos 12 apóstolos à Grande Comissão. De fato, não se pode descartar esse momento de expansão do Evangelho, de cristianização dos gentios.

O resumo abrangente das Escrituras feito por Jesus e seu mandamento direto, confirmando o plano de Deus para o mundo inteiro deveria servir de motivação necessária. Tudo isso somado à ação poderosa do Espírito Santo concedendo-lhes poder, deveria transformá-los em missionários transculturais dinâmicos!

Na ocasião em que o poder do Espírito Santo veio, cerca de 15 regiões diferentes do Oriente Próximo e Médio estavam representadas por judeus piedosos que se reuniram em Jerusalém para a festa de Pentecoste. Além de seu conhecimento comum do hebraico e do aramaico, esses judeus da Diáspora, isto é, que foram dispersos, falavam várias línguas gentias. O poder do Espírito permitiu que os que estavam presentes aguardando esse acontecimento falassem nas línguas gentílicas de modo que todos esses judeus compreendessem. E por quê?

Partindo do contexto do ministério de Jesus e seus planos para o mundo inteiro, a concessão desse poder através da capacidade de falar as línguas gentílicas mostrou ter um único objetivo: destacar o propósito específico da evangelização de todos os povos. Daí qualquer busca de poder para fins próprios, mero prazer, engrandecimento pessoal ou simplesmente para experimentar torna-se uma distorção do propósito inicial de Deus em preparar a Igreja para missões.

A lição deixada por Atos é que qualquer ação da parte de Deus em investir na sua Igreja só possui uma finalidade, despertá-la para fazer missões. Portanto, qual o sentido da existência da Igreja? Bênçãos pessoais? Prosperidade? Cura? Libertação? Pode-se dizer que tudo isso, segundo a soberana vontade de Deus virá como consequência de um relacionamento saudável entre Criador/criatura. O sentido existencial da Igreja se encontra em dar prosseguimento à grande comissão, à ordem sacerdotal de anunciar. Colocando em simples palavras: fazer missões! Por isso Jesus é o Messias para todos os povos!

Pense nisto!


[1] Evangelho de Marcos 13:10.


sábado, 15 de outubro de 2011

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: ÁGUA E ÓLEO



















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Pr. Márcio Leão
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Lembro-me quando criança na escola, a mistura de água e óleo era sem dúvida a mais eficaz para o aprendizado da mistura heterogenia, e essa experiência foi marcante na vida de todos nós para o aprendizado escolar, foi quando eu aprendi a diferença de misturar e dissolver: água e óleo se misturam, mas não se dissolvem por causa de suas densidades diferentes!

Em se tratando de diálogo inter-religoso, que foi muito comentado no início desta primeira década do nosso século e continua sendo discutido nos círculos acadêmicos específicos, o que se propõe é a possibilidade das religiões se entenderem entre si definitivamente, unindo-se para propósitos específicos. Dentre estes, orações pela humanidade e mãos dadas pela preservação ecológica e pela conscientização sobre a sustentabilidade. Algumas manifestações até já acontecem como a oração pela paz ocorrida na década de 80 e a participação de algumas entidades na Eco-92 no Rio de Janeiro.

Unir-se à outra religião em prol de algo que cujo objetivo é promover o bem para a sociedade ou a humanidade como um todo, é razoável, é até bíblico do ponto de vista da doutrina da vocação e do mandato cultural. Não há nenhum problema nisso, desde que sejam lançados limites bíblicos, contudo, muitos cristãos, ao serem abordados e argüidos sobre o diálogo inter-religioso não sabem como se proceder, que opinião ter! Não sabem se é certo ou errado e alguns nem mesmo se interessam pelo assunto, não sabendo o quanto é importante refletir neste assunto. Afinal é a integridade do Evangelho que está em jogo! Portanto, expresso meu parecer!

Se para que ocorra o diálogo inter-religioso em prol da humanidade isso depende de abrirmos mão de certas verdades bíblicas e “religiosas” para aceitar as de outros, e se o ato de tal aceitação signifique apostasia, então teremos que mudar o foco da nossa pregação ou até mesmo questionarmos se, de fato, estamos convictos daquilo que cremos.

Quando fazemos a leitura de alguns livros bíblicos, como Juízes, Samuel, Reis, etc; percebemos que a aceitação de outras religiões no meio do povo de Israel acabou levando o povo de Deus ao desvio da vontade divina. Não quero aqui afirmar que outras religiões em nosso meio seja um risco para nos afastarmos do caminho, mas, devemos atentar que desde os primórdios, o diálogo entre religiões quanto as suas crenças são, na verdade, água e óleo do ponto de vista bíblico-teológico.

Até alguns cristãos têm compactuado com a opinião de cientistas da religião propondo o diálogo inter-religioso como “abertura à mútua transformação”! Mas há um sério problema que está passando despercebido até aos olhos mais atentos: Será que através do diálogo inter-religioso por meio de abrirmos mão de nossas crenças bíblicas fundamentais, não estaríamos assim colocando em xeque a questão do sentido de nossa fé em Cristo? Se cremos que ser Cristão também é estar compromissado com o ide de Cristo em anunciá-lo como Senhor, como então dialogaremos com as demais religiões que o negam como o único Senhor? Não é isso que Paulo propõe aos atenienses em Atos 17: Deus uno que não se assemelha ao ouro, à prata ou à pedra o que na verdade contrariava a religião dos atenienses? E como explicar o que Paulo quer dizer na sua epístola aos Romanos 16:17,18?

Orarmos pela paz, unirmos força para a consciência ecológica, para combatermos as drogas que promovem misérias em todos os aspectos, na busca de uma humanidade mais justa, sem dúvida revela a possibilidade de um diálogo inter-religioso; até como algo necessário, porém, a ensino bíblico não deve ser negado, abandonado! Pois quando nos deparamos com a razão de nossa fé certamente estaremos diante de um grande abismo, ou seja, seremos como água e óleo, misturaremos se preciso em prol de que Deus seja glorificado no cuidado com a humanidade e com o restante da criação, mas não dissolveremos!

sábado, 8 de outubro de 2011

O PRINCÍPIO DA SEMEADURA



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Prof. Paulo Rogério
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Existem leis que regem a natureza e que, segundo a Bíblia, são princípios universais, que se aplicam tanto no plano físico como no espiritual. E estas leis não podem falhar, pois são regidas pelo próprio Deus. Elas são tão certas quanto ao fato de que Deus existe.

Uma destas leis é o princípio da semeadura e colheita, ou a lei da semeadura. Esta lei, que conhecemos tão bem no campo da natureza, estende-se ao campo espiritual, segundo a Palavra de Deus, em passagens bíblicas como Lucas 6:38; 2ª Coríntios 9:6 e Gálatas 6:7-9.

Em muitos de nossos esforços diários, obedecemos aos princípios da semeadura e colheita. Um homem de negócios semeia um pouco a fim de colher mais. Os trabalhadores semeiam suas energias a fim de colherem os salários. No plano espiritual, Cristo foi à semente da nova criação de Deus. A ressurreição que aguardamos é baseada no princípio da semeadura (1ª Coríntios 15:35-38). Em 2º Coríntios 9:6, o Espírito Santo aplica esta lei à questão das ofertas. Aquele que pouco dá, pouco receberá... Um lavrador não tem dúvida alguma disso quando prepara sua lavoura. Ele não poupa sementes.

Será que podemos estar certos do funcionamento deste princípio em outros aspectos da nossa vida? Jesus disse: “Daí, e dar-se-vos-a; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão.” (Lucas 6:38). Estas palavras do Mestre nos asseguraram de que a colheita é maior que a semeadura. Como podemos aplicar isto na nossa vida espiritual? Será que podemos semear a Palavra, o Evangelho puro e genuíno e obter uma colheita assim como o lavrador planta um grão de cereal para colher uma espiga cheia? E não é exatamente isto que Jesus nos convida a fazer?

Quem semeia pouco, colhe pouco, é um princípio divino baseado nas Escrituras Sagradas. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna.” (Gálatas 6:7-8).

“Colher vida eterna...”! Se fizermos uma ligação com a Pregação do Evangelho Santo, esta expressão significa colheita abundante, pois, a nós foi dado a ordem de pregar, e o convencimento vem através do Espírito Santo! Então, além de termos a vida eterna, proporcionaremos a muitos outros a vida eterna, através de um irmão em Cristo. Cumprindo seu Ide, muitos chegarão à vida eterna através da mensagem da cruz. Mas, o que estamos semeando?

As passagens citadas estão nos ensinando claramente que a lei da semeadura se aplica só ao tipo de colheita que desejamos obter. Cada espécie só produz a própria espécie. Se pregas o Evangelho, colherás vidas, se semeas amor, colherá amor em troca, se perdoas, será perdoado. Temos apenas que lembrar que enquanto fazemos isto para o Reino de Deus precisamos fazer sem parcialidade ou pensando em obter lucro. Fazemos porque Jesus Cristo fez isto primeiro por nós, e por semear amor e salvação a nós, fomos “contaminados” com esse maravilhoso vírus de Deus e não conseguimos mais parar de o proliferarmos, seja no corpo de Cristo, a Igreja, mas, também ao mundo que pede misericórdia, amor e compreensão. Você tem semeado entre aqueles que precisam da salvação?

Depois que a semente é lançada, o lavrador espera sua colheita pacientemente e com fé, esperando que Deus opere o crescimento. Todavia, enquanto espera, ele não fica inativo, mas se ocupa em regar a sementeira e conservar o campo livre das ervas daninhas. Sim; toda semente dever ser cuidada e regada pela Palavra de Deus e pela oração persistente. E as ervas daninhas da dúvida devem ser arrancadas através do discipulado e ensino puro da Bíblia.

Enquanto esperamos a colheita por Deus prometida, devemos nos manter firmes e fortes, com uma fé inabalável! Poderemos até não ver a colheita, pois o tempo é de Deus, não nosso, mas, com certeza nossos corações estarão alegres e jubilosos por termos feito aquilo que o Mestre ordenou. E no mais, “...a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” (Gálatas 6:9). Leitor, se ainda não começou a semear, está na hora de lançar a semente, pois está geração, só lançará a semente para esta geração. Então comece, ainda há tempo!

Soli Deo Gloria.

sábado, 24 de setembro de 2011

ESTUDAR CIENTIFICAMENTE A BÍBLIA NÃO É PECADO

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Prof. Leonardo Miranda
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Abordar a Bíblia como livro histórico e como literatura nem sempre é bem visto aos olhos de todos os cristãos. Muitos têm receios religiosos em examinar as Escrituras cientificamente, isto é, através das técnicas da bibliologia, que por sua vez, objetiva descobrir, observar, investigar e conhecer a história do livro, a sua origem, a sua evolução, a sua produção, a sua publicação, a sua conservação e restauração das cópias, e a organização dos textos no decorrer da produção da Bíblia. Mas, se refletirmos bem, veremos que a oposição ao estudo científico se dá por dois motivos básicos.

Um é o de que esse tipo de estudo é uma tentativa de conduzir as pessoas a desacreditar no valor religioso da Bíblia. Todavia, esse tipo de influência não vem da crítica literária; ao contrário, a crítica literária é na verdade uma ferramenta muito importante para a biliologia, principalmente porque confirma o que já é aceito por fé: que a Bíblia não é ficção, é um livro histórico e ao mesmo tempo palavra revelada de Deus para o ser humano. De fato, quem tenta negligenciar essa verdade não são os críticos literários e nem os biblistas, e, sim, os eruditos com tendências seculares e liberais.

O outro motivo para a oposição ao estudo científico das Escrituras, diretamente ligado ao primeiro, é o receio de que esse tratamento científico da Bíblia anule a autoridade divina que os cristãos associam à ela. Pela razão de a Bíblia ser vista como um livro especial, algumas pessoas argumentam que avaliá-la do ponto de vista histórico e literário significa encará-la como um livro comum. Então, sob essa lógica a Bíblia não poderia ser estudada com as ferramentas habituais da linguística, da gramática, e nem da história.

Mas, o problema desse argumento é que ele é insustentável por si só. Repare: quando alguém, seja leigo ou teólogo, estuda em casa, na escola bíblica ou no seminário  disciplinas como “métodos de estudo da Bíblia”, hermenêutica, línguas bíblicas ou exegese, este alguém já está usando de ferramentas científico-teológicas no estudo da Bíblia. Por isso, o fato de que a Bíblia é um livro diferente dos demais por possuir uma essência espiritual no conteúdo, não significa que seja diferente nos demais aspectos de sua composição como os materiais usados para a produção dos textos. Mesmo um exame superficial da Bíblia mostra que seus autores usaram língua e gramática comuns, respectivas da época, e que os relatos contém história.

Desse modo, abordar a Bíblia como livro, como material cultural historicamente situado em determinado tempo e lugar e até como literatura, isto é, abordá-la cientificamente não significa que a fé tem que ser deixada de lado, não significa que o biblista considere a Bíblia como livro comum, e muito menos que os teólogos e leigos devem lê-la hoje com olhar de descrédito. Antes, uma investigaçãso científica como a que é proposta pela bibliologia serve para indicar quais os pontos em que a Bíblia é igual às antigas literaturas e quais os pontos em que ela é diferente, confirmando que essa diferença se dá por ser a Bíblia a palavra de Deus. Por isso, estudar cientificamente a Bíblia não é pecado!

Pense nisto!