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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Servir a Deus, ou servir-se de Deus?

Imagem extraída do Google


Fabiano Xavier
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   Mas, vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, ajuntou-se o povo a Arão e disseram-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, a este homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu. Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas e trazei-mos. Então, todo o povo arrancou os pendentes de ouro que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão, e ele os tomou das suas mãos, e formou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então, disseram: Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito. E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e Arão apregoou e disse: Amanhã será festa ao SENHOR. E, no dia seguinte, madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois, levantaram-se a folgar.  (Exodo 32:1-6)


É espantoso como a narrativa desse triste episódio da história de Israel, às vezes parece ser reconstruída em nosso cotidiano. Como um filme que se repete, quando observamos alguns cristãos no que pensam ser um relacionamento com o Senhor, vemos as pessoas procurando se servir de Deus e não servi-lo.

Quando desconsideram a Soberania de Deus e colocam na própria vida qualquer coisa no lugar que só Ele deveria ocupar, muitos estão construindo seus ídolos. Porém,  antes que isso aconteça, algumas considerações podem ser levantadas:

 - Se toda a revelação do Senhor, de sua intervenção na história que Ele mesmo governa, é para que o mundo fosse preparado para o Cristo, sendo este o que forja em nós seu próprio caráter por meio de sua Graça e misericórdia, deveríamos entender que não conhecemos a Deus, mas Ele se faz conhecido e tal processo (justificação, regeneração e santificação) inevitavelmente se dará a duras penas. (Fp 1:29)

- Ora, então o Deus que opera em nós tanto o querer quanto o efetuar (Fp 2:13), nos concede o dom da fé para que, não o vendo, não o conhecendo como de fato é, e até mesmo não entendendo o porquê de alguns acontecimento em nossa vida, prossigamos para o alvo, sabendo em quem temos crido. (Rm 11:34,35; Fp 3:14; 2Tm 1:12).

Infelizmente porém, assim como a narrativa de Exôdo, para alguns é mais confortável "invetar" um deus que não existe, do qual podem se servir, a servir o Senhor. É mais confortável, cultuar a si mesmo, com canções antropocêntricas, com mensagens de autoajuda, prosperidade, triunfalismo, distorcendo a escritura, enfatizando o show, a técnica, a festa. Buscam um Deus que não exige nada, mas corresponde às suas expectativas imediatas e mundanas.

Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos. 2 Tm 4.3.

 A exemplo dos homens no caminhos de Emaús (Lc 24:21), constroem uma imagem falsa sobre Deus e ao depararem com a verdade, se decepcionam por saberem que o Senhor quer nos livrar de nós mesmos, de nossas concupiscências, de nossa carnalidade.

- O Deus invisível está habitando em nós (igreja de Cristo). Precisamos fazer esse Deus visível com nossas atitudes, assim como Ele é, começando por nos submetermos a Ele em reverência. Tendo antes de tudo, prazer na sua lei, amor por conhecer as Sagradas Escrituras e sermos santificados na verdade. Prestarmos um verdadeiro culto ao Senhor, suplicando para que Ele seja soberano em nossas vidas, a fim de experimentarmos sua boa, perfeita e agradável vontade. (Sl 1:2; Jo 17:17; Rm 12:2)

Que tal começarmos imitando a Jesus?

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

NOS BASTIDORES DA EDUCAÇÃO SECULAR E DA EDUCAÇÃO CRISTÃ

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Prof. Leonardo Miranda
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Nos artigos anteriores escrevi sobre educação cristã: primeiro apresentei o conceito e as características desta proposta teórica, depois ponderei sobre suas motivações e seus desafios. Neste terceiro e último artigo sobre o referido assunto, apresento as diferenças ideológicas entre a educação não cristã e a cristã como a fim de demonstrar que as duas possuem algumas similaridades, mas, igualmente diferenças significativas que, em logo prazo podem trazer malefícios ou benefícios sociais dependendo de qual das propostas será escolhida na educação de uma geração. Pois bem, prossigamos:

Educação não cristã é também conhecida como “educação secular” que, como o nome já indica, é a perspectiva educacional voltada para o século. Neste caso, a abordagem da educação é feita a partir de uma concepção da realidade cujas explicações de origem e funcionamento passam por teorias não bíblicas, não teístas, mais especificamente influenciadas pelo evolucionismo.[1] Desse modo, como a educação secular exclui Deus de suas considerações e não atenta para as necessidades espirituais de seus alunos, sobram apenas teorias humanistas.[2]

A partir deste conceito a educação tem sido entendida de modo mais genérico, mais amplo, que supõe o desenvolvimento integral do ser humano tanto na sua capacidade física, passando por sua capacidade intelectual quanto moral, objetivando a formação das habilidades, do caráter e da personalidade social.[3] Até este ponto de certa forma os objetivos da educação são louváveis! O problema está no conjunto ideológico que alimenta este alvo.  

A principal teoria usada na pós-modernidade é o construtivismo, que, como já mencionado antes, considera o conhecimento como sendo o resultado da interação entre o aluno e o meio em que vive. A partir dessa premissa, todo conhecimento é uma construção que vai sendo gradativamente formada no relacionamento com os objetos físicos e culturais. Assim, o professor é apenas um agente facilitador que permite ao aluno, segundo sua subjetividade, sua pessoalidade e sua condição peculiar de discernimento, “construir” seu próprio conhecimento.

Nessa perspectiva teórica, tanto o direcionamento ou intervenção dos professores quanto a intervenção dos pais pode ser prejudicial, principalmente se esses adultos agirem como transmissores da realidade[4], pois o alvo principal da educação secular é a obtenção da autonomia do ser humano através da supervalorização da obtenção do conhecimento como resultado das interações sociais.   

Já a educação cristã caminha na contramão da teoria secular defendendo uma abordagem holística, isto é, em todas as direções, considerando não apenas o universo material como alvo de pesquisa, fonte de obtenção de conhecimento e, consequentemente, interesse da educação, como também a realidade metafísica/ espiritual.

A partir destas características, a educação cristã deve ser vista como uma forma particular de educar. Forma esta que não rejeita totalmente os objetivos defendidos pela educação secular (pontos similares), como por exemplo, a necessidade do desenvolvimento do caráter do aluno que o possibilitará viver em sociedade. Contudo, a educação cristã compreende que esse valor de desenvolvimento do caráter deve estar baseado nos princípios estabelecidos por Deus, e, não, pelo humanismo (pontos divergentes).

A base ideológica da educação cristã está em educadores, professores e alunos assumirem uma cosmovisão bíblica, entendendo o ser humano como criado à imagem e semelhança de Deus e não meramente um animal biológico cuja mente deve ser condicionada. Por isso, o principal objetivo dessa educação cristã é levar o educando a viver de tal forma que ele reconheça e adore o seu Criador, a fim de cumprir o propósito para o qual foi criado. Por essa razão essa proposta teórica teísta não oculta sua cosmovisão sob o pretexto da neutralidade ideológica[5], antes, procura desenvolvê-la mediante os currículos e metodologias específicas adotadas.[6]  

Repare que tanto a educação não cristã, ou secular, quanto a cristã, fazem uso da filosofia para articular desde propostas educacionais, passando pelo projeto pedagógico, até o processo ensino-aprendizagem. Portanto, a diferença estrutural entre uma proposta e outra é exatamente a visão de mundo e a filosofia adotada por cada uma. A longo prazo, uma geração que é educada por uma educação meramente secular resultará no desequilíbrio social que possuímos hoje em decorrência das influências do pecado, cujas respostas para as demandas sociais são superficiais e inóspitas. Já, uma geração que é educada pela educação cristã não significará uma sociedade perfeita, contudo, certamente teremos um conjunto de pessoas mais conscientes e eticamente bíblicas.

Pense nisto!


[1] SANTOS, p.158.
[2] De acordo com Santos, a educação secular tem sido influenciada por teorias psicanalíticas que evitam “frustrar a criança” em todos os sentidos. Consequentemente, seus métodos promovem a liberdade irrestrita e não supervisionada dos alunos. Ao invés de Deus, o ser humano é que se torna o centro dessa perspectiva educacional. (SANTOS, p.159)
[3] ARANHA apud SANTOS, p.157.
[4] PORTELA, p.1.
[5] O conteúdo e a metodologia do educador serão sempre determinados por suas crenças mais íntimas. Desse modo, reconhece-se a impossibilidade de uma neutralidade ideológica nas atividades educacionais.
[6] Sobre isso, Santos citando Miller, afirma que a educação cristã possui um caráter distinto ao se comprometer com a realização dos objetivos educacionais por meio de um currículo que integra as variadas áreas do conhecimento com a epistemologia bíblica, dando a atenção integral ao ser humano sempre partindo da cosmovisão bíblica. (SANTOS, p.158)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

EVANGELHO NA CULTURA: A RAZÃO DE SER E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ

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Prof. Leonardo Miranda
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No artigo anterior foquei o conceito e a base bíblico-teológica para a elaboração e o desenvolvimento da Educação Cristã. Neste artigo, enfatizo razão de ser e o desafio desta proposta educacional crendo que a cultura por si só é algo positivo, mas está contaminada pelo pecado e precisa ser evangelizada. Assim, me apropriando de um trabalho que já escrevi faz algum tempo e agora o publico parcialmente na forma de artigo com as devidas adequações.

Pois bem, o foco da educação cristã está na antropologia cristã. Considerando que o ser humano, existencialmente, pode ser visto como uma espécie de microcosmo, uma síntese do universo que resume tudo o que é encontrado no macrocosmo, o ápice da criação de Deus, isso o torna distinto das demais criaturas por ter recebido a Imagem e Semelhança de Deus.[1]

Essa Imagem e Semelhança o torna apto para aprender todas as coisas. Assim, a Educação Cristã pressupõe que o homem nasceu com a capacidade de adquirir compreensão da realidade e aprender as diversas formas do conhecimento, porque tais capacidades foram dadas por Deus. Daí se conclui que se todas as pessoas foram criadas por Deus à Sua Imagem, conforme Sua Semelhança, todos não apenas devem, mas possuem o direito de ser igualmente educados.[2]

O respaldo teológico dessa afirmação encontra-se na crença de que o homem é a coroa da glória de Deus, pois nele foram reunidos todos os elementos materiais e todas as formas e seus graus para exprimir toda a arte da divina Sabedoria.[3] Ao criar o ser humano, Deus o dotou com uma mente infinita e adicionou os sentidos para ajudá-lo na questão do conhecimento, ou seja, é através desses sentidos que a mente chega a todos os objetos externos e nada fica oculto. Então, não há nada no mundo que um homem, dotado de razão e sentidos, não possa compreender.[4]

Contudo, na Queda[5], o pecado alienou toda a criação, ou seja, não destruiu a estrutura da ordem criada e nem a tornou essencialmente maligna, mas a reorientou numa direção de apostasia. Desde que a queda foi total o homem distorce seus pensamentos e suas ações visando à idolatria.[6] Porém a redenção proposta por Jesus Cristo envolve a recriação do ser humano como “nova criatura” e, com isso, o seu redirecionamento para Deus dando a devida importância para o restante de sua criação. Tudo o que foi criado é objeto do amor redentor de Deus, que tem seu alcance integral.

Assim cabe ao cristão a missão de cooperar com Cristo para mostrar na cultura à humanidade caída as riquezas que Deus pôs na criação para que ela mesma se envolva com a restante da realidade harmonicamente e goze de tudo. E para que isso ocorra é preciso que o cristão se envolva nas atividades culturais em todos os níveis da vida, tendo como referencial a fé no Evangelho de Cristo.[7]

E é aí que reside a razão de ser da Educação Cristã, de sua existência enquanto ciência, enquanto produção cultural: o sentido de sua funcionalidade. A cura para a corrupção humana não está na especulação dos homens, mas no exame da realidade através de uma visão cristã de mundo e em reconhecer que o problema existe e precisa ser tratado. Cabe, então, a Educação Cristã servir como ferramenta que entrelaça todas as áreas do conhecimento com a verdade da existência do Deus Criador e com a revelação proposicional encontrada nas Escrituras[8], para que, integralmente, o ser humano seja educado.   

Já se sabe que para que o ser humano seja capaz de entender a si mesmo e sobre sua interação com o ambiente em que se encontra é preciso educação. Contudo não é qualquer educação, não se trata apenas de reprodução de informações por si. Isso não faz nenhum sentido! É preciso que seu saber teórico, seu saber crítico e seu saber técnico encontrem uma razão de ser, um sentido. Daí a necessidade de uma educação integral, isto é, uma educação que envolva o ser humano como um todo, uníssono: espírito, alma e corpo, raciocínio, emoção e capacidade de escolha.

A educação não cristã, crendo numa suposta neutralidade, tende a se manifestar como um movimento de intelectualidade dominante que vê o ser humano de forma fragmentada com as áreas “religiosidade”, “racionalidade” e “sociabilidade” incomunicáveis entre si, apenas caminhando juntas paralelamente.[9] Já a educação cristã faz o inverso, trabalhando para a promoção da integralidade.

O objetivo é que a educação cristã promova formação cristã, transformação pessoal, crescimento intelectual, e transformação da cultura de modo que a verdade e a sabedoria instruam o educando em todas as suas dimensões, tendo como resultado uma pessoa capaz de resgatar valores cristãos usando-os para a re-significação ou construção de novos valores caracteristicamente teístas na cultura, na ciência, na técnica, nas artes, na economia, na política e na própria educação devidamente repensada.[10] Por isso, constituem-se como alvos imediatos da educação cristã, levantar sua “bandeira de defesa da fé cristã” e, principalmente, formar pensadores, cientistas, tecnólogos, filósofos, educadores, teólogos e todo tipo de intelectuais, doutores nas ciências humanas, biológicas e exatas dotados de princípios bíblicos e mente aberta para o estudo da criação[11] e cumprimento da ordenança divina de dominar sobre a terra.[12]

Daí o grande desafio da educação cristã ao focar-se na integralidade do ser, pois para que o objetivo seja alcançado é preciso lançar-se diante da superação e apresentar uma educação que seja capaz de recuperar os conceitos de verdade, realidade e possibilidade de conhecimento, cuja base tenha Deus, o ser humano e o cosmos como referência.[13] E para isso, barreiras precisam ser transpostas, tais como:

  • Desmantelar essa idéia atual de que “sucesso pessoal-profissional” de qualquer pessoa significa ser predador do outro e manter, no máximo, uma relação superficial com esse outro.

  • Ser capaz de reconhecer a visão de mundo ateísta por trás dos princípios filosóficos dos grandes pensadores não cristãos que vêm influenciando a sociedade ao longo dos séculos.

  • Trabalhar para que os cristãos resgatem a capacidade de desenvolver cultura na humanidade, ao invés de deixar isso para os não cristãos, libertando, definitivamente, os cristãos da idéia de que somente a visão de mundo ateísta é parâmetro acadêmico aceitável para explicar e desenvolver erudição;

Enfim, a educação cristã deve estar comprometida com a formação de uma visão cristã de mundo que sirva como filtro para que tudo isso seja realizado e o ser humano viva em harmonia com Deus, consigo, com o próximo e com a natureza, ou seja, viva integralmente. 

Trabalhar para a formação integral do ser humano é a realização máxima da educação cristã. O desejo de que ocorra essa realização está embasado nos fundamentos da doutrina cristã, cujo princípio central é o conhecimento que se deve ter sobre Deus e que dá sentido à vida humana.[14] A partir desses fundamentos, a educação cristã compreende que a formação integral ocorre no desenrolar do processo educativo através da associação feita entre a espiritualidade humana e os demais aspectos da formação educacional (a língua, a literatura, a história, a ciência, as artes, o esporte e todas as demais que compõem um currículo escolar), tanto no âmbito individual quanto no social.[15]

Pense nisto!


[1] COMENIUS apud LOPES, p.57-58.
[2] LOPES, p.58.
[3] Ibdem, p.59.
[4] Ibdem, p.60.
[5] Queda é a terminologia teológica para indicar a existência do pecado na vida do ser humano. Simbolicamente, significa que antes da desobediência de Adão e Eva, o primeiro casal, ambos estavam “de pé” diante de Deus, isto é, sem culpa, sem medo, sem dever nada. Depois veio a “Queda”, isto é, depois “caíram” diante de Deus, ou seja, se tornaram culpados, medrosos e devedores diante de Deus, não sendo mais capazes de permanecer “de pé”, tornando-se, principalmente, carentes do perdão de Deus. 
[6] Detalhes sobre esse conceito, conferir nessa apostila o capítulo 3, Bases Teológicas da Educação Cristã, tópico 3.3, A crença nas doutrinas Criação, Queda e Redenção.
[7] CARVALHO, p.128.
[8] PORTELA, p.125.
[9] MOURA, p.101.
[10] Ibdem, p.97.
[11] MOURA, p.97.
[12] De acordo com o comentário encontrado na Bíblia de Estudo Genebra, esse domínio é entendido como o mandato cultural, isto é, Deus deu uma ordem, um mandato em que o homem deve dominar sobre a natureza (entendida, aqui, como reino animal, vegetal e mineral) promovendo intervenções benéficas nela, isto é, produzindo cultura. Um exemplo bíblico disso foi a capacidade que Deus deu ao homem de dar nomes aos animais (Gn 2:19,20). Mais detalhes conferir nessa apostila o capítulo 3, Bases Teológicas da Educação Cristã, tópico 3.5. A Doutrina da Vocação e o Mandato Cultural.
[13] MOURA, p.98.
[14] MORELAND apud MOURA, p98.
[15] BORGES apud MOURA. P.98.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

EDUCAÇÃO CRISTÃ: ANTIGA FERRAMENTA PARA NOVOS CONCERTOS

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Prof. Leonardo Miranda
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Nos últimos dias venho refletindo sobre a cultura ocidental, a Igreja e a educação. Terminei há poucos dias a leitura de uma apostila sobre História da Igreja e concluí que o tempo é, de fato, a maior testemunha de que alguns eventos parecem mesmo ser senoidais. Não cremos como os gregos que o tempo seja cíclico e a história se repita, mas percebemos claramente que alguns eventos são muito parecidos e isto nos dá a impressão de que instituições como Estados, Igreja e determinados fenômenos sociais são senoidais no sentido de sempre passarem por “altos e baixos”, ascensão e queda, momentos gloriosos e momentos inóspitos, de fraqueza e mediocridade. E ao olhar para a instituição Igreja latino americana hoje, tenho a sensação de que somos da geração que vive o tempo de declínio, mas sempre esperançosos de que Jesus é o Senhor da Igreja.

Enquanto penso sobre o momento difícil em que vivemos como “corpo de Cristo”, tento, como teólogo, pensar nas demandas que o Brasil apresenta e nas respostas que o Evangelho aponta e percebo que a educação sempre foi, ao longo da história, um instrumento da Igreja na luta externa (contra o preconceito, contra a perseguição do Estado e contra outros religiosos) e na luta interna (dentro da própria instituição contra as heresias e as opiniões particulares que se insurgiram contra a bíblia e a ortodoxia cristã), daí minha ponderação sobre a educação cristã para hoje que ora compartilho:

Educação é algo inerente ao ser humano; faz parte da essência de cada pessoa. Assim como o ser humano tem necessidades espirituais, biológicas, psicológicas e sociais, igualmente, para que seja capaz de compreender a si mesmo como sujeito que interage com o ambiente em que se encontra e até mesmo compreenda seu próprio desejo de interação, tem a necessidade de educação, de se formar e se desenvolver em todas as instâncias.

A Educação Cristã é o fruto desse reconhecimento e na Bíblia encontramos dois exemplos sobre sua importância:[1] o primeiro é a própria Lei de Deus revelada no Antigo Testamento que possui orientações e ordenanças civis, penais e religiosas não abarcando somente o lado religioso institucional, antes, englobando todos os âmbitos da vida humana.[2] O segundo exemplo é a própria ação ministerial de Jesus Cristo que era conhecido como um mestre e ordenou explicitamente aos seus seguidores que utilizassem o método educativo[3] para comunicar a outras pessoas sobre os novos valores e convicções do Reino de Deus.  Ora, se a própria Bíblia dá exemplo da importância da educação, isso significa que a educação cristã precisa abarcar todas as áreas da vida humana.

Educação Cristã nada mais é do que a aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual, moral e espiritual do ser humano, alcançando a integralidade do ser sob a ótica da Bíblia, a palavra de Deus.

Ao tratarmos da Educação Cristã, estamos envolvidos em dois processos distintos, mas que interagem o tempo todo: 1) a educação cristã eclesiástica, que trata da formação teológica referindo-se à transmissão da fé em seus aspectos bíblico, doutrinário e ético, e 2) a educação cristã geral com pressupostos e valores teístas, cristãos dentro e fora do lar. Ambas as perspectivas precisam ser ponderadas, estudadas e desenvolvidas a fim de que cristãos e não cristãos compreendam que é possível viver a fé de um modo que não seja nem dualista e nem excludente e ainda capacite a Igreja a responder as demandas e os desafios postos diante de si.[4]

Como se pode notar, educação genuinamente cristã é possível, voltar a usá-la, reconhecendo-a como uma antiga ferramenta que serve para novos concertos é nos respaldarmos dos princípios apresentados na própria bíblia. Não querendo ser reducionista, mas basta iniciarmos um trabalho de conscientização a partir da proposta de que cada cristão assuma uma visão cristã de mundo que implique em substituir as bases de crença idolátricas que formam a cultura, criando uma “cultura alternativa” que assuma bases bíblicas, cristãs.

Pense nisto!

Nos próximos artigos ponderaremos sobre o sentido e o desafio da educação cristã! Não perca!


[1]Não há como negar que o reconhecimento da educação como o meio de instrução pessoal, familiar e social seja algo antigo, provavelmente anterior à própria produção do Antigo Testamento e até mesmo anterior às pessoas que viveram nessa época. Mesmo que a educação não fosse refletida e assumida com um caráter científico, certamente já fazia parte da prática de todo povo antigo como uma das formas de preservação e sobrevivência. Então quando se fala de exemplos bíblicos, trata-se, na verdade, de exemplos que consideram a educação associada à crença em Deus e como ferramenta para ensinar sobre a própria divindade e sobre questões existenciais. Portanto, trata-se de exemplos de uma forma de educação que assume bases teístas, isto é, que admite a existência e a consequente intervenção de Deus.
[2] Cf. 2ª Carta de Paulo a Timóteo 3:16,17 em que a “Escritura” mencionada, no contexto original do autor, refere-se ao Antigo Testamento.
[3] Cf. Livro de Atos dos Apóstolos 5:42.
[4] Quando se estuda a história da Educação incluindo as propostas filosóficas que articularam as mais variadas formas de adequações do processo ensino-aprendizagem, percebe-se que até o fim da Idade Média não havia diferenciação e separação entre “ensino religioso ou cristão” e “ensino secular”. Pelo menos no Ocidente o ensino era um só, o cristão. Somente na modernidade foi que ocorreu a separação. Este artigo apenas propõe uma reflexão teológica acerca da necessidade de que seja assumida a educação cristã como base para a capacitação da Igreja e a formação da cidadania.  

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A VALIDADE DO CONHECIMENTO TEOLÓGICO

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Prof. Leonardo Miranda
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Não foi nem uma ou duas vezes que, em conversas informais com amigos e conhecidos, fui interpelado sobre a Teologia, especificamente sobre a validade do conhecimento teológico! Muitos já me perguntaram: “O que é teologia?” e “Para que serve teologia?” ou ainda “O que fazer com o conhecimento teológico”?

Evidentemente que no início, quando esta pergunta era feita inclusive por cristãos leigos eu me surpreendia e até me chateava, contudo, com o tempo percebi que a Igreja latina é laica, sendo produto de uma miscelânea de interpretações teológicas e estratégias missionárias e, portanto, não privilegiar a teologia ou mesmo não se preocupar muito com os fundamentos da fé cristã de modo sistematizado é mesmo uma característica nossa. Mas não para a nossa alegria!

A questão é que o latino, especificamente o brasileiro, não vê a educação em geral, incluindo a cristã, como um fim em si e um patrimônio a ser alcançado. Ao contrário, a ideologia do consumo transforma nossa cultura fazendo com que só vejamos como patrimônio bens materiais. O resultado disso é que a educação e as áreas de conhecimento das ciências humanas, incluindo a teologia, ficam relegadas ao segundo plano, algo de menor importância, justamente porque as pessoas pensam logo em como se beneficiarão de modo pragmático de qualquer informação que obtiverem. Prova disso é que geralmente os salários pagos no primeiro e segundo setor da economia em que as profissões são em sua maioria oriundas das áreas das ciências biológicas e exatas são mais altos do que os do terceiro em que prevalecem as profissões das áreas de ciências humanas.   

Então, diante das várias experiências de ser questionado, resolvi dar minha contribuição sobre a validade do conhecimento teológico. Vamos refletir juntos:

Assim como o conhecimento científico é o resultado da pesquisa científica que faz uso de um método científico qualquer, o conhecimento teológico é o resultado da pesquisa teológica que faz uso de métodos teológicos específicos.

E como o conhecimento teológico visa alcançar uma das faces da verdade, para a Teologia, essa face pode ser encontrada pelo caminho da investigação com base em dois fundamentos:

  • A fé: Deus falou aos homens por meio de intermediários que transmitiram sua mensagem. Então, pode-se afirmar que a teologia é uma reflexão racional e sistemática que parte dos dados da fé e, por isso, pressupõe a fé.

  • A Revelação de Deus: Essa Revelação tem um fundamento histórico. O cristianismo parte, por exemplo, da existência histórica de Moisés, do povo de Israel, de Jesus Cristo, dos Apóstolos.

Na interação entre fé e Revelação ocorre a investigação da realidade e a busca pela verdade com uma concordância intelectual acerca da existência de Deus e sua intervenção na história. Assim, para o teólogo, a afirmação de que Jesus Cristo morreu na cruz para a salvação dos homens contém um dado histórico e um dado de fé. Historicamente, existem as provas para afirmar que Jesus morreu crucificado, na província romana da Palestina, no ano 30 da era atual, mas só a fé nele é que se pode afirmar que essa morte é o ato de salvação dos homens.

O teólogo procura “entender” a fé, encontrar motivos para a sua crença, pois não renuncia o uso da “razão”. Irá, então, sistematizar seus dados de fé e procurar integrá-los em toda a sua experiência humana. Por exemplo, poderá perceber que a mensagem de fé a respeito da “vida eterna”, da “ressurreição final”, é uma resposta ao presente anseio de felicidade existente no homem; ou que todo o estilo de vida de Jesus é uma boa premissa para acreditar nele.

Assim sendo, o conhecimento teológico tem um aspecto “científico”, no sentido de que é racional, metódico e sistemático. Pense, por exemplo, na sistematização das disciplinas teológicas: dogmática, moral, ciência bíblica, histórica, eclesiástica, mas tudo isso sempre a partir do ato de fé e das informações contidas na Revelação. Então, objetos do conhecimento teológico são os dados da fé, manifestados historicamente na Revelação.

Essa é a razão de ser do conhecimento teológico que, a partir da fé, reflita sobre Deus, sobre o ser humano, sobre o restante da realidade e como acontece a inter-relação de todos estes personagens e elementos. Para isto, os métodos teológicos devem ser usados na procura da integração entre a fé e a razão.

Repare que na teologia os valores estão baseados no ensinamento do Reino de Deus cujo patrimônio maior não é um bem material, mas sim assumirmos uma visão cristã de mundo que nos possibilite representar, enquanto Igreja, os interesses de Deus e seu Reino. Portanto, o maior bem do qual podemos nos beneficiar é a regeneração em Cristo e a preparação para a eternidade com Deus. Como não há nada de pragmático ou mercantilista nisto, é por isso que a maioria, inclusive de cristãos leigos, não sabe o que fazer com o conhecimento teológico.

O que vale mais: um ser humano ou uma casa? Uma pessoa ou um carro? Uma criança recebendo educação e sendo preparada para a vida ou uma vaga de diretor de uma grande corporação multinacional? Estas perguntas chegam a ser simplórias e certamente, para alguns, até sem fundamento, mas observe que nos valores do Reino e ser humano sempre valerá mais e nos valores fora do Reino, os bens que podem ser adquiridos sempre valerão mais!

Pense nisto! Pense na real validade do conhecimento teológico!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

TEOLOGIA LATINA: PARA QUE SERVE?

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Prof. Leonardo Miranda
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Os conceitos, as pesquisas, os métodos e as respostas usadas em Teologia são todos formulados e adequados de acordo com a compreensão que o teólogo tem sobre o que é Teologia. A própria Teologia Latino Americana não foge a esta regra. E é exatamente sobre esta compreensão que este artigo reflete, pondera, sem, contudo, absolutizar as definições aqui apresentadas.[1]

O fundamento da Teologia é a Revelação de Deus encontrada na sua Palavra. A função da Teologia é refletir sobre Deus e todo o restante da realidade à luz da fé e o ponto de partida teórico do discurso teológico é exatamente a fé que, por sua vez, é determinada pela “experiência da fé” com a graça de Deus. É desta que a teologia se nutre.

Através da Palavra de Deus, principio iluminador da teologia, é que ocorre o desejo de praticar teologia. E o resultado pode constituir um “ponto de confronto com a fé”, um referencial para verificar a autenticidade da própria fé, por assim dizer.

A linguagem teológica, especificamente a latina, valoriza a linguagem simples procurando um meio-termo entre a linguagem unívoca, literal, de uma só interpretação, um só sentido e a linguagem equívoca, que pode ter mais de uma interpretação, mais de um sentido. Esta é a linguagem da comparação: ao mesmo tempo em que diz algo de verdadeiro sobre Deus, qualquer teólogo, incluindo o latino, sabe que o diz de modo inadequado, incompleto, sem saber tudo, isso porque Deus é sempre maior. Enfim, o cristão latino americano sabe que para falar sobre Deus e a relação com o ser humano e o restante da realidade, deve falar de modo que seu discurso, seu trabalho teológico, seja acessível ao povo em geral.

A teologia é caracterizada como ciência na medida em que realiza as condições requeridas para tal, isto é, de ser crítica, sistemática e auto-amplificativa. Isto significa que mesmo que a teoria teológica contribua para a articulação da metodologia e da própria pesquisa teológica nos ambientes acadêmicos, o mais importante na produção teológica será o resultado do confronto entre fé e prática na vida real. Por isso o teólogo precisa tomar parte ativa na vida concreta da comunidade, de modo especial através do seu compromisso com Deus e com o mundo. Somente assim sua teologia conseguirá realmente ser rica, fecunda, verdadeira e realista.

A Teologia é altamente relevante por considerar a existência de Deus e que toda absolutez só se encontra nele. Deus é o “objeto máximo do pensar humano” e a busca derradeira da humanidade. Todas as outras ciências são consideradas como instrumentos ou mediações importantes para a teologia, no sentido de ajudá-la na compreensão da realidade. Além disso, as áreas do saber trazem à teologia uma válida contribuição crítica. Da filosofia, por exemplo, a teologia não incorpora necessariamente um sistema, mas sim um espírito ou postura filosófica diante da realidade. Já as ciências constituem hoje um interlocutor privilegiado (embora não exclusivo) da teologia, pois lhe fornecem as mediações culturais, particularmente através das ciências sociais que, para o contexto latino, são fundamentais na interpretação de nossa multiculturalidade.

Por fim, ainda tratando das articulações da teologia, cabe uma palavra sobre o pluralismo teológico característico na América Latina. A diversidade de teologias, de respostas, encontra sua justificativa em dois fatores importantes. O primeiro diz respeito à transcendência da fé: teologia alguma, por ser humana, consegue dar totalmente conta de responder tudo; ao contrário, só Deus é pleno, é total, é absoluto. O teólogo deve sempre se manter numa posição de humildade, lembrando constantemente do “Mistério sempre maior”, e, portanto, transcendente a toda linguagem humana. O segundo fator é a limitação do contexto cultural, que também é foco de estudo de toda teologia, ao ponto de condicioná-la.

As respostas dos teólogos latinos devem ser dadas a todo aquele que indaga acerca da realidade, mas principalmente à comunidade eclesial, à Igreja, pois o objeto da teologia, que é a fé revelada, é uma realidade confiada a todo o povo de Deus.

Então, as disposições básicas para o estudo da teologia enquanto reflexão da fé a serviço do ser humano exige as seguintes disposições: 1) amor ao estudo da fé vivido numa vitalidade sempre nova, 2) senso do mistério e a consequente humildade intelectual e teológica e 3) o compromisso com o ser humano.

Se todo saber humano deve estar à serviço da vida, a prática teológica latino americana na vida cotidiana não termina e nem pode terminar no puro saber, mas no compromisso da fé com o amor a Deus e ao próximo.

Pense nisto!

[1] Este artigo foi produzido a partir da leitura e adequação de uma resenha escrita por Rodrigo Assis Rosa, do livro de Clodovis Boff, Teoria do método científico. A resenha foi encontrada no site <http://www.lanteri.org.br/htm/teoriameto.htm>. Acesso em set. 2010.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

TEOLOGIA LATINO AMERICANA: VALORIZANDO A PRATA DA CASA

Imagem extraída do Google Image
Prof. Leonardo Miranda
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“Teologia Latino Americana”, esta é, com certeza, uma nomenclatura nova! Era algo inexistente a bem poucas décadas atrás. Formada essencialmente pela Teologia da Libertação e pela Teologia da Missão Integral se mostra diferenciada das teologias clássicas exatamente por ser muito parecida com o próprio latino-americano. O latino possui um estilo de vida que demanda flexibilidade e adaptação se ele quiser sobreviver. Assim é sua teologia.

Vivemos um momento incrivelmente transformador e peculiar. No Brasil na política já temos a primeira mulher a ser presidente da República, na economia sobrevivemos a uma crise em nível mundial, na religião assistimos dia a dia a proclamação do diálogo inter-religioso, no esporte o Brasil sediará a Copa do Mundo e nas demais questões sociais a principal é a tentativa de independência moral da homossexualidade. No que se referem aos demais países temos um Haiti ainda em ruínas, uma Cuba que se abre ao capitalismo, uma Venezuela com ditadura em pleno século XXI, uma Argentina com Economia recessiva, etc.

Como se já não bastasse o cristianismo na América Latina a cada dia toma novas formas: algumas bíblicas, algumas heréticas. E de vermos todo este dinamismo lançamos uma pergunta: como se relacionar com Deus e servi-lo numa América Latina tão fluida em seus conceitos e em sua adaptabilidade para sobreviver na globalização e ao mesmo tempo tão mais sólida pela maturidade adquirida de todos estes anos de opressão?

Desse contexto fala-se na Teologia Latino Americana como um produto reflexivo, extraído não apenas do conteúdo bíblico, mas das próprias demandas da vida latina. Se Filosofia e História caminham lado a lado com a Teologia na tentativa de elaborar respostas, em se tratando da teologia latina, a presença e participação destes três pilares parece se acentuar ainda mais com o apoio também das leituras políticas e econômicas. Na América Latina, nenhuma teologia sobrevive se não contar com estas leituras.

E se considerarmos que seu nascimento ocorre no século XX e que já causa impacto em nível internacional certamente é algo que veio para ficar. Não conseguiremos mais nos livrar dela. Graças a Deus por isso! Mas quais as suas características?

Possui identidade plural

Assim como o continente que lhe dá o nome possui uma identidade plural, este sistema teológico também. Observe: ao olharmos para a história da América Latina com a presença dos nativos, dos vários colonizadores, dos escravos estrangeiros e de outros povos que tiveram curtas passagens por aqui nos tempos dos “descobrimentos” e observarmos todas as heranças culturais aqui deixadas, certo é que afirmaremos sem exitar que não podemos falar em uma cultura, um costume, até mesmo uma América Latina. Talvez a descrição que melhor se encaixe seja “Américas Latinas” dentro da enorme junção dos continentes Central e Sul. E assim é com a Teologia Latino Americana.

A própria pluralidade dentro do cristianismo latino - protestantes históricos, pentecostais históricos, neopentecostais, igrejas emergentes, métodos e mais métodos de evangelização e as mais variadas propostas teológicas, algumas amplamente conhecidas e outras localmente conhecidas - faz com que, por obrigatoriedade, a Teologia Latino Americana seja plural.

Obviamente que ainda não é possível falar em um sistema pronto, definido, portador, inclusive, de um compêndio de teologia sistemática latina, justamente por sua pluralidade e por ser ainda tão nova. E para muitos teólogos latinos é até melhor que seja assim mesmo, mais livre, menos engessado. Contudo, o grande diferencial desta teologia é que ela está muito mais focada nas demandas políticas, sociais, econômicas, educacionais e todas as demais instâncias da vida humana no nosso contexto. 

E para que possa se focar neste diferencial tenta, aos poucos, amadurecer em termos de crenças, de conceitos e práticas. Note: por costume, ainda usamos as teologias sistemáticas importadas da Europa e dos Estados Unidos. Nossa cultura evangelical, mesmo multifacetada, carrega em grande parte a essência de valores e comportamentos dos ensinos das missões norte americanas e algum resquício das missões européias. Estes primeiros ensinamentos em si não são ruins; ao contrário, são importantes para nos reconhecermos, sabermos quem somos e qual o meio que Deus utilizou para que o Evangelho chegasse a nós. Contudo, é hora de amadurecer e criarmos a nossa própria teologia, a que tem mais a ver conosco, a que nos identifica como cristãos e ao mesmo tempo como latinos, que não tira de nós a nossa humanidade, a que revela a flexibilidade do Evangelho no alcance das culturas, incluindo a nossa. 

Almejarmos por termos a nossa própria teologia não significa que jogamos fora todo o arcabouço teológico dos primeiros ensinamentos, mas, sim, que reconhecemos que eles já não dão mais conta de responder aos nossos anseios. Imagine uma pessoa que na primeira infância vive sob a tutela dos pais e se dá por satisfeita com as singelas respostas, mas o tempo passa e chega a adolescência e a juventude e esta pessoa sente, naturalmente, pelo próprio processo de maturidade, a necessidade de viver sua própria vida. Assim se manifestou entre os cristãos latinos: precisamos e queremos viver a nossa própria teologia!

E nesta busca por uma identidade, ou várias identidades ou uma identidade plural, a Teologia Latino Americana busca ser contextualizada, voltada para o ambiente sócio-histórico e cultural específico. Como reflexão pensada a partir da fé, focada numa determinada realidade da vida latina, a Teologia Latino Americana é também universal no sentido de que, ao pensar a fé e a prática, pensa em como ordenar a vida já neste mundo, sem, contudo, descartar o porvir, mas enfatizando o aqui e agora. Tanto é que seu método investigativo não é a especulação filosófica e nem a especulação apocalíptica. Pelo contrário, é o método hermenêutico, pois se preocupa em como interpretar esta realidade no que tange a qual a melhor forma de se viver o Evangelho e anunciar o Reino envolvendo-se em todas as instâncias da vida latina[1].

Está em construção

Eis o grande desafio! Como já se sabe a Teologia Latino Americana não passa de uma jovem forma de crer e pensar, entretanto não denigre os princípios bíblicos e nem as tradições cristãs, mas reivindica que a América Latina seja vista com respeito e consideração. Que seus cristãos sejam também vistos como herdeiros de uma liberdade de viver e pensar a palavra de Deus conforme sua própria cultura, daí a luta para tentar se construir.

Se por um lado a igreja latina padece por não possuir seu próprio compêndio de teologia sistemática, por outro lado se beneficia da pluralidade teológica interna que possui e convida a todos os ministros e leigos, teólogos ou não, que estejam dispostos a pensar a vida cristã latina de modo coerente com a liberdade dada por Deus para a criação, re-criação e vivência da própria cultura.

O que não falta é terreno, oportunidade. A América Latina pode ser considerada um bojo efervescente de beleza incomparável, mas ao mesmo tempo com problemas político-econômico-sociais que afetam todas as demais áreas e problemas religiosos que também não ficam atrás.

Talvez nunca seja possível a junção de todas as reflexões teológicas elaboradas na tentativa de responder a “ausência” de Deus nos milhares de lares latinos, todavia é certo que há espaço para todos os que desejam contribuir na construção do pluralismo teológico respaldado pelo conteúdo biblicamente coerente.

Pense nisto!


[1] Sanches. A Teologia Latino-Americana. Disponível em <http://www.teologiaemissao.com.br/sobre_a_tla_2.html>. Acesso em jan.2012.